sexta-feira, 6 de abril de 2012

Gente chata

Se tem uma coisa que me irrita horrores, a ponto de fazer com que eu contraia os dedos dos pés e revire os olhos até ficar vesga de ódio, essa coisa é o  tal do pseudo-cult. Não sei bem como a espécie nasceu, mas o fato é que ela se reproduz vorazmente por todas as redes sociais e vem se multiplicando de forma assustadora no dia-a-dia também. Ô raça, viu. Essa gente parece dominada pela bundamolice, característica daqueles que só sabem encher o saco alheio e não conhecem a diversão despretensiosa.

Porque na visão desses pentelhos, é uma decepção muito grande uma menina que gosta do Woody Allen se sentar no sofá da sala pra assistir os barracos de um reality show tosquinho. E imagine só! Essa jovem leitora de Florbela Espanca se aventurando em um festival sertanejo? Não pode, não pode! Isso só pode ser heresia, ou remake de A Fazenda. Ai, ai, ai. Deixa eu contar até 10 mil. Posso falar? Vão aprender a se divertir e depois a gente conversa um bocadinho. Simplesmente não consigo conviver com esse povo sem ter a imagem mental de uma voadora daquelas sendo desferida em seus belos narizes empinados.

Isso tudo me leva à uma conversa hilária que escutei no ônibus esses dias. Estava lá, de pé, um dos caras mais chatos que já tive o desprazer de conhecer na minha vida, discutindo Platão na maior altura – e arrogância – com um outro rapaz que usava óculos estilosinhos. Enquanto o insuportável monologava pra si mesmo, eis que o de óculos começa uma frase com: “Então, tô lendo um livro do Augusto Cury que…” Pausa. 

Risos eternos, minha gente. Eternos e vingadores. Tomou no orifício, senhor pseudo-qualquer-coisa. Por essa você não esperava, não é mesmo? Ficou até sem saber o que dizer.  Nesse momento queria muito poder descrever a cara do chatão, mas as risadas não me deixam nem lembrar direito. Certamente, ele teve vontade de morrer, ou de se jogar do ônibus em movimento. Moço dos óculos estilosos, se você fez de propósito, meus parabéns! Foi a trollada do século.

O que mais me irrita nesse tipo de pessoa é o fato de que estão pouco se lixando pra bagagem adquirida com as coisas que leem, escutam ou assistem. O importante mesmo é ir se exibir no Facebook, no Twitter, no Filmow ou no Orangotag. Ou fazer o que fazem de melhor: desmerecer os outros. Sempre com aquele ar de superior. Eles acham que estão abafando, mas na verdade, só estão sendo companhias desagradáveis. Gente chata. Apenas chata. Como lidar? Melhor não lidar. Porque Cazuza já dizia:

“Respeito quem é radical, respeito quem ama errado, respeito o cara careta e o cara exagerado, quem não gosta de criança e quer viver solitário, quem odeia rock'n'roll, mas gosta de um rebolado. Só não há perdão para o chato.”

Eu continuo ouvindo minhas músicas pop, lendo livros de mulherzinha, assistindo Legalmente Loira sempre que passa na TV e rindo de gritar com os barracos dos bons tempos de BBB. Nem por isso deixo de ler Saramago, escutar canções antigas, ver  filme europeu e documentário. E sabe por quê? Porque eu gosto de verdade, não pra ser rotulada por isso. E se eu quiser ir a um show de sertanejo com as minhas amigas logo depois de terminar um livro do Nabokov? Eu vou mesmo. Porque nada do que eu faça pra me divertir, desde que não machuque ninguém ou a mim mesma, é errado. E, afinal, realmente. Só não há perdão para o chato.

22 comentários:

  1. Amiga, tá escutando daí os meus aplausos? Porque, né. A felicidade está, obviamente, em ser feliz, cara. Seja com Lolita, Harry Potter, e, preferencialmente, os DOIS! Pagar de cult não tá com nada!
    Eu tenho orgulho de dizer que sou a moça que lê Florbela Espanca, foi em show de sertanejo, discute Sartre e não perde uma estréia de Crepúsculo. Pronto, falei!
    E sou feliz!
    Beijos!!

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  2. Todos os dias eu me deparo com pessoas assim. Faço Letras, então imagina o quanto de gente que eu [infelizmente] conheço que são desse tipinho.
    Tenho pena, sabe? Porque são pessoas vazias de tudo. De conteúdo, de verdade. Eles estão ali, só se iludindo com a vida, coitados.
    É de dar dó.
    Beijo!

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  3. HAHAHAHAHAHA Eu simplesmente amei o que você fez (e que prefiro nem especificar pra não ser polêmica demais). É bem aquilo que a gente tava comentando mesmo... Gente que quer aparentar ser o que não é. Gente que eu tenho absoluta certeza (porque, pra quem gosta DE VERDADE, dizer que gosta não é tão importante quanto pra essa gente) que não faz questão de entender mais do que 1/5 das coisas cults que lê, mas não deixa de sair por aí marcando em todas as redes sociais como favorito.
    Que se danem essas! Não sou inferior a ninguém por ter lido O Diário da Princesa e considerar pra caramba os livros. Da mesma forma, não sou superior por estar lendo Nabokov. E eu não vou nem falar sobre Harry Potter.
    Uma coisa pra esse povo: vei, na boa.

    Só isso.

    Beijos, irmã mais velha (e chata!)

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  4. *Aplausos entusiasmados*
    Cara, é EXATAMENTE isso que eu penso sobre esses pseudo-cults.
    Que gente chata que fica se exibindo o tempo inteiro e/ou, com o perdão da palavra, cagando regra por aí.
    Detesto profundamente, mas o mais triste é que, ao ler esse texto, confirmei que conheço váááários pseudo-cults. Trágico, trágico!

    "O que mais me irrita nesse tipo de pessoa é o fato de que estão pouco se lixando pra bagagem adquirida com as coisas que leem, escutam ou assistem. O importante mesmo é ir se exibir no Facebook, no Twitter, no Filmow ou no Orangotag. Ou fazer o que fazem de melhor: desmerecer os outros. Sempre com aquele ar de superior."

    É BEM isso mesmo!

    Ótimo texto. Concordo com cada linha.

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  5. Tary, que texto ótimo! Já cansei de contar quantos unfollows já recebi por assistir #BBB. Sério, assisto pra me divertir, e ás vezes dá até pra tirar umas lições. Mas mesmo se não der, qual o problema? Acredito que tudo que você 'consome', te adiciona algo na forma de ver as coisas, mesmo as mais banais. Pseudo-CUltice não tá com nada, bando de retardado. U_U Adorei o texto, como sempre você arrasando! ;)

    Beijos

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  6. Escutando lendo o post: Audio: MAL NENHUM Barao Vermelho http://tmblr.co/ZjOkMyJ4zHWr
    Barão com Cazuza em Salvador cerca de 1985.

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  7. eu ODEIO pseudo-cult pelos mesmos motivos que vc! e tu acha que eles são assim? aposto que ficam em casa assistind procurando nemo pra por no facebook que viram uma animação francesa da década de 70... uma vez na aula comentei que gostava dos livros de crônicas de narnia e meus colegas BUKOWSKI TEAM já me crucificaram dizendo que sou uma criança, mesmo que eu leia 10 vezes mais do que eles e conheça bukowski assim como conheço narnia. Dizer que gosta só de coisas "pseudo-cults" limita a essa galera a ser do mesmo jeito que o pessoal que eles falam mal. Enquanto isso nós estamos abrindo nossas mentes pra bobagens, seriedade e diversão :) beijos!

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  8. Cheguei até seu blog pelo link no blog da Analu.

    Queria dizer que concordo 100% com teu post. As pessoas acham estranham que é assim, acham que não sabem do que gostam ou então querem agradar a gregos e troianos. Não levam em consideração que a pessoa pode simplesmente gostar das coisas mais diversas. Eu também gosto de músicas pop, livros de Jane Austen, Legalmente Loira, canções antigas, filmes iranianos, documentários, Friends, The Big Bang Theory, Chaves, tudo junto e misturado!

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  9. Outro dia estava lendo "Anna e o beijo francês" no meio da sala da faculdade, até que parei e ri sozinha só de imaginar que eu tava fazendo o dia de algum dos muitos idiotas que estudam comigo (porque faculdade de direito é, desculpa o tempo, foda, né). E sabe o que mais? Não me importei nem um pouco. Prefiro ser verdadeira comigo mesma do que tentar impressionar essa gente. Sim, eu gosto de outras coisas, coisas que teoricamente têm "mais conteúdo", mas o dia em que eu desistir de comédias românticas e livros pré-adolescentes, me mata. E pior ainda que esses chatos, são os chatos que morrem de vontade de fazer a mesma coisa que você, ou os que FAZEM, mas não têm a coragem de admitir. Pelamor, minha gente, a vida é curta demais pra gente ser sério o tempo todo.

    Beijos, Tary!

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  10. Tem gente que se levan a sério demais, Tary. Gente que não se permite, que não curte, que não vive. Gosto de gente assim. Infelizmente para eles eu não sou uma lady como vc, se me criticar pq leio Paulo Coelho ou ouço Michel Teló eu mando logo tomar no cu kkkkkkkkkkkk
    Beijão!

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  11. HAHAHAHAHAHAHA TARYZINHA!
    TO sem comentários pra essa sua publicação! Putz meu! Sério! Falou TU-DO!

    E pra ser sincera eu costumava ser assim tambem, pseudo cult, com preconceitozinhos idiotas e me julgando melhor do que os outros por gostar disso ou escutar apenas aquele tipo de musica... Hoje estou bem melhor e quer saber? Sou muito mais feliz assim!

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  12. Grande e lindo Cazuza, sempre. Só não há perdão para os chatos! E eu odeio gente assim, que entorta o nariz quando falamos de Meg Cabot ou "O Diário de Bridget Jones" só porque eles carregam na bolsa um livro de oitocentas páginas de algum psicanalista famoso. Oi, eu sei ler. Podem ser trezentas ou oitocentas. E, na maioria das vezes, é só peso na bolsa e pose de inteligente, porque carregar na mente e pra vida, é a minoria. Amei o texto, Tary ♥

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  13. Tary,onde eu assino embaixo?

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  14. Oi, Oi (leitora nova hahah)
    Esses dias estava pensando exatamente nisso, em como as pessoas querem ficar "pagando" de pseudo-cults, de filosofas e moralistas, tsc tsc tsc, é muito triste. E ainda te julgam por coisas tão bobas, humpf. Dá até dó.

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  15. ODEIO pseudo cults também, mas como tenho estudado um monte de coisa nerd e tal e morro de vontade de conversar sobre elas, me sinto próxima à pseudo-cultice, sabe? Porque me irrito com quem fala errado sobre Marx e afins e me irrito por não poder conversar sobre isso sem ser rotulada de pseudo-cult chata, não posso simplesmente gostar do assunto, oras bolas? Esse mundo é chato demais com essas coisas, viu? Enfim, aplausos eternos pelo seu texto. Estou formulando um sobre o assunto também, quem sabe um dia...
    Abraços e carinhos Tary fofa <3

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  16. mal da geração da internet, né? é muito fácil ficar pagando de intelectual por ai, quando a gente publica até quando entra no banheiro (com um livro do Caio F. na mão, é claro). Engraçado é que essas pessoas aí não percebem que, enquanto elas pagam de diferente, são todas tãaaaaaaaaao iguais - e chatas.

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  17. HAHAAHAAHA AI TARY, EU TE AMO! SÉRIO.
    Eu dou risada desses 'pseudo cults' que me acham jacu ao ponto de ir em um festival sertanejo, ler Caio F. ou Florbela Espanca e gostar de Crepúsculo. Sou apaixonada pelo Michel Teló, como também sou apaixonada pelo William Bonner, Evaristo Costa ou o Caio Castro. Ué, eu sou madura (sei lá se isso é uma questão de maturidade, mas vamos deixar assim) e ser eclética para gostar de tudo isso! Sou feliz assim e pronto.
    Amei amei!
    Beijos

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  18. Posso imprimir seu texto e distribuir pela cidade? POSSO? HAHA, pq você foi ótima em seus argumentos! É mesmo uma chatice sem tamanho quando essas pessoas passam a te rotular por aquilo que faz ou deixa de fazer. Oras, se na minha prateleira de livros de Freud e Meg Cabot, ninguém tem absolutamente nada com isso! Cada um sabe daquilo que gosta, daquilo que te faz bem. Viver coisas só pra posar de cult é uma perda de tempo fenomenal.

    Ah, e obrigada pela visita lá no blog! Legal saber que foi indicação da Ana Luísa! :)
    Beijo, boa semana!

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  19. Mas é isso mesmo Tary, é um bando de chato que se autodenomina intelectual. Eu mesma, num guento! Também sou super mega fã de BBB (e esse me irritou tanto! tão ruim... =/) e tenho minhas leituras, meus gostos musicais. E tenho pq eu gosto, não pq a sociedade "acha bonito". Sabe, é o fim do mundo ver gente menosprezando novela, realities e etc. Eu sou a primeira a falar: eu amo! rs...

    Beijos

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  20. Aí sim, Tary!
    E sabe o que eu acho mais patético? se as pessoas dão TANTO valor ao que os outros gostam/leem/assistem, deviam elas tratar de realmente entender aquilo pra pelo menos poder ser insuportável com propriedade, né?
    beijo!

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