Eu não tenho tantas coisas em comum com meu pai, quanto tenho com a minha mãe. Quero dizer, nós dois gostamos de tomar café de manhã, somos os últimos a sair da pista de dança, amamos Raul Seixas, Beatles e Tim Maia, curtimos uma cervejinha. E ok, devo admitir, nossos gênios são bastante parecidos. Somos esquentados e não aceitamos pedidos de desculpa com tanta facilidade.
Mas nossas maiores paixões, por exemplo, divergem por completo. Ele passa muito tempo vendo futebol e eu passo muito tempo lendo livros. Vivo brincando que a culpa de eu não se aficionada pelo esporte é totalmente dele. Mais do que isso, digo a torto e direito que ele é o culpado por eu não ser corintiana roxa. Meu pai nunca comprou camisetinha nem bola do Timão pra me persuadir. Aí não deu outra. Foi só o Kaká sorrir pra mim que virei são-paulina.
E, confesso, também rolou toda aquela vontade de contrariar o paizão doido pelo Corinthians. Por muito tempo, torci religiosamente pelo São Paulo. Decorei escalação, aprendi a cantar o hino, entrava no site do Tricolor todo santo dia e ficava contando vantagem por causa das vitórias do meu time. Quando São Paulo e Corinthians se enfrentavam, meu pai ficava tão possesso, que eu precisava comemorar gol no quarto ao lado, morrendo de rir.
Infelizmente – ou felizmente, vai saber –, todo esse fangirlismo teve o destino de muitos outros da minha adolescência: não passou de uma fase. Era muito sofrimento e muita zoação na escola no dia seguinte quando o São Paulo perdia. Não deixei de torcer, mas parei de acompanhar as partidas e cansei do fanatismo. Meu pai continuou vendo os jogos sozinho na sala de casa.
Tive a iluminação na tarde de hoje. Assim que entrei no carro depois do trabalho, ele puxou o assunto: “Você viu, filha? Luisito pegou nove jogos de punição!”. E começou o papo animado sobre a Copa do Mundo. Dei a notícia de que o Aguero estava fora da seleção argentina por causa de uma lesão, enquanto a gente ouvia no rádio o jogo dos Estados Unidos contra a Alemanha.
Comentamos as chances do Brasil no Mundial, contei que o Paulinho estava treinando com os reservas e o Forlán, com os titulares. Então chegamos em casa e almoçamos assistindo Portugal e Gana morrerem abraçados. Aí lembrei do meu pai, ex-jogador profissional, me perguntando quem eu tinha achado o melhor jogador da partida entre Brasil e Croácia. Lembrei da gente comendo pipoca, enquanto assistia o Uruguai enfrentar a Inglaterra. E tantos outros jogos incríveis que acompanhamos nos últimos dias. Pensar nisso me deixou, sei lá… meio emocionada? Não sei.
Dizer que a Copa de 2014 me aproximou do meu pai talvez seja forte demais. Nós somos próximos. Nós brigamos e discordamos, é verdade, mas nos amamos demais e tenho certeza que faríamos de tudo um pelo outro. A questão é que me senti, pela primeira vez, inteiramente parte do mundo dele. Igualmente apaixonada pela mesma coisa, vibrando na mesma sintonia. Tenho lembranças de outros mundiais, mas em nenhum deles eu mergulhei na paixão do meu pai como agora. Existem muitas razões para essa ser a Copa das Copas. Pra mim, no meu coração, essa é a principal.
Love, Tary
P.S: Te amo, paizinho!
Amiga, que texto bonitinho!
ResponderExcluirMeu pai sofreu do coração quando eu fui persuadida a ser flamenguista quando pequena, mas eu logo mudei pro Galo, e aqui em casa é sempre uma festa particular quando tem jogo do Atlético. Todo mundo é atleticano: papai, eu, Felipe e mamãe. Não tem mais problema! hahaha
MAS, também não tenho tanta coisa em comum com o meu pai e a Copa tem servido pra nos aproximar também. Quando ele me leva pro estágio, nosso papo é só Copa. A parte chata é que eu não posso dizer os motivos pelos quais eu ainda estou de luto pela Espanha, né, porque ele não entenderia! hahaha
Ai, Copa das Copas, fique pra sempre!! <3
Beijos
Amiga, chorei!
ResponderExcluirQue coisa mais linda e sensível, me tocou bem lá no fundo. É muito bom sentir essa sintonia absoluta com alguém, principalmente quando é na família. Digo isso porque supõe-se que somos próximas da nossa família por conta do laço de sangue, mas nem sempre é assim. Morar na mesma casa e dividir DNA é uma coisa, afinidade, sintonia, é outra. A gente não escolhe onde vai nascer, e é muito bom sentir que se está no lugar certo e que não trocaríamos de lugar se tivéssemos oportunidade. Li esses dias por aí que o futebol (e o esporte, de modo geral) é uma das colas que une o mundo pós-moderno. Achei exagerado, claro, mas também muito lindo. E como não concordar, né?
Saudações corintianas pra você!
te amo <3
Absolutamente emocionada? Mas é claro.
ResponderExcluirSua relação com o São Paulo é parecida com a minha com o Botafogo. Fui loucamente apaixonada pelo Botafogo uma época. Fiz meu pai me levar em finais de campeonato no Maracanã e olha, foi bem assim como sua experiência com seu pai. Meu pai é vascaíno, como todo bom português abrasileirado, mas ia comigo nos jogos e se empolgava como se fosse o Vasco. E é tão bom poder compartilhar alguma coisa com eles, né?
Eu não tava animada pra essa copa. Eu tava era bem revoltada com ela. Hoje eu ainda vejo os problemas, mas vocês me contagiaram com muita força. Eta Copa histórica.
Beijo <3
Ai, amiga, emocionei aqui!
ResponderExcluirMe emocionei porque as épocas que mais me aproximo e entro em sintonia com meu pai é nas Copas. Sabemos que todos temos diferenças, mas é lindo quando acabamos por compartilhar algo que os dois gostam.
Copa das Copas mesmo, né? <3
Beijo!
Ai amiga, que post delicioso!
ResponderExcluirSabe que, até a Copa passada, eu só via mesmo jogo do Brasil e lembro que fiquei indignada porque meu pai não queria sair de casa porque ia ter jogo da Argentina. Eu reclamei e minha mãe falou: "Você gosta de ver o Brasil jogar, seu pai gosta de futebol".
Achei engraçado quando me percebi, esse ano, passando o dia inteiro na frente da televisão e desistindo de sair para não perder #GERPOR ou #USAGHA, sabe? Talvez se ele ainda estivesse em casa teria sido divertido! Mas águas passadas não movem moinhos: o fato é que essa está sendo mesmo a Copa das Copas e tá divertidíssimo brincar disso com vocês!
Te amo! <3
Me emocionei Tary!Que texto mais cheio de amor!
ResponderExcluirTambém não torço pelo mesmo time que meu pai e a Copa é a oportunidade única de poder assistir a jogos juntos e dividir opiniões, bolões e talicoisa.
Não moro mais com ele, mas pelo telefone sempre conversamos. hahahaha
Apaixonei com esse texto Tary.
Que este restinho de Copa passe devagarzinho, para você aproveitar ainda mais estes momentos ao lado do seu pai. <3
Meu pai é colorado e hoje, eu também sou, porém quando pequena, eu falava o tempo todo que era gremista, só pra encher o saco dele!
ResponderExcluirNo meu caso é um pouco diferente poqeu eu semrpe gostei muito de futebol, mesmo amando ler livros e ver filmes, o futebol foi algo que meu pai e minha mãe acabaram me passando. É bom ver que a copa, por mais que tenha sido tão polemizada, junta tantas pessoas! É uma época maravilhosa, eu amo!
Aproveitem muito. Beijos.
Lovely Evv
Amo textos sobre pais. Sempre me emociono.
ResponderExcluirAcho que a minha história é um pouco parecida com a sua. Pai, ex-jogador profissional, e nunca exigiu que seguíssemos o time dele. Mas como sou muito apegada a ele, claro que torço para o mesmo time. Acho fofo que o meu pai assiste o jogo em completo silêncio. Já a minha mãe que é atleticana torce aos gritos. Eles, inclusive, assistem jogos separados, se não dá briga, porque ele quer assistir o jogo sem barulho. hahaha
Claro que o meu pai sempre quis um filho que gostasse muito de futebol como ele. Mas não rolou nem da minha parte, nem do meu irmão. Acaba que tento me interessar mais, para me aproximar dele. E todas as Copas é a mesma coisa, ficamos horas e horas conversando.
Fiquei muito feliz que a Copa aproximou vocês dessa forma. Realmente, é a Copa das Copas, Tary.
Ai, que legal, Tary! Tão bom estar em sintonia, ter uma paixão em comum com quem a gente ama!
ResponderExcluirComo não moro mais com meu pai, não rolou essa maior aproximação durante esse período. Também, apesar de tudo, eu não vejo meu pai gostando tanto de futebol quanto o seu. O nosso assunto em comum costumava ser tecnologia, computadores, jogos, etc. Mas aí eu cresci, parei de jogar e esse assunto morreu. ):
Mas quem sabe, né?
Muito feliz por você!
Beijos!
Não tenho paciência pra futebol, logo, não gosto de copa do mundo. Os dias têm sido torturantes quando é só disso que falam e confesso que fecho todos os blogs que abro e vejo que lá vem mais um texto sobre... copa. Mas o seu me fez ler até o final, foi a história mais bonitinha com o mundial que me deparei até agora e fez até o coração amolecer um pouco e eu pensar que, ok, essa coisa é realmente útil na vida de algumas pessoas. Fico muito feliz por você se sentir assim! Acredito que a proximidade com os pais é uma das coisas mais incríveis que podemos conseguir ou não e que é bem sofrido vvier sem.
ResponderExcluirAbraços!
Que coisa mais bonita de se ler *-*
ResponderExcluirMeu pai nunca foi um fanático pelo futebol e, como ele diz "o resultado do jogo não vai mudar minha vida". Isso até me entristece um tico, visto que em copas do mundo eu viro uma fanática futebolística. Mas, como meu pai tem o dom de ser do contra, ele sempre torce para QUALQUER time que esteja jogando CONTRA o Brasil. E isso é deveras irritante.
Eu amo meu pai também, mas para a Copa ser a Copa das Copas, eu passo bem longe dele hehehe.
Adorei a postagem!
Amiga, estou na fila de quem achou o seu post lindo, e se emocionou com ele.
ResponderExcluirTambém estou dividindo essa copa com o meu pai, que ri dos meus comentários sem propósitos e sem o menor embasamento de vida alguma, e quando eu estou empolgadissima e cochilo no sofá (hahaha), e quando eu trago comidinhas pra gente assistir junto.
Comecei a expectativa dessa copa odiando tudo, mas cheguei no Rio de Janeiro no dia certo para me contagiar, e tenho que dizer, essa é a copa das copas!
Tamo junto! Um beijo pra vc e pro seu pai! <3
Não sei se foi a TPM ou o seu jeito de contar essa história, ou, ainda, o final que me arrepiou de tão bonito, mas acabei emocionada.
ResponderExcluirJá fui mais próxima do meu pai do que sou hoje e lendo você escrever assim sobre o seu me deu vontade de fazer as coisas voltarem a ser como eram.
http://www.novaperspectiva.com/
Que post lindo, Tary!
ResponderExcluirEm alguma medida me identifiquei. Nessa Copa, me envolvi muito e tenho assistido a maioria dos jogos, ou pelo menos todos os que consegui. Eu, meu irmão e meu pai, quando estamos em casa, sentamos no sofá da sala e comentamos os jogos. Esses dias, quando falei que as pausas de um dia ou dois eram pra gente ir se acostumando pra quando a vida voltasse ao normal e o futebol fosse de novo sinônimo de brasileirão, meu pai comentou que ia perder a companhia na frente de tv da sala.
Também não foi a copa que me aproximou do meu pai. Somos parecidos, somos próximos e temos gostos em comum pra compartilhar (como você, tive meu tempo de torcedora, mas torcia pro mesmo time que o resto da família). Mas é aquilo que eu sempre tenho dito por aí nos últimos meses: é a melhor coisa compartilhar esses sentimentos e emoções e comentários com alguém. Melhor ainda se for gente que a gente ama, né?
Beijo!
La pelos meses de 2008 comecei a curtir o greNAL e me simpatizar com o Internacional sendo que o meu paié colorado doente hoje ele fica nervoso em ver o greNAL e eu amo de paixão!
ResponderExcluirNossa! Que texto lindo! Eu, assim como você, também tive minha fase de fanatismo por futebol, pelo meu querido Vasco. Ao contrário de você, entretanto, fui persuadida pelo meu pai e temos o mesmo time. Mas o bom realmente dessa Copa é poder voltar a assistir os jogos com ele e minha irmã, como fazíamos religiosamente com o Vasco há alguns anos.
ResponderExcluirDe fato, é a Copa das Copas. Para as famílias.
Beijos!