Depois de muito tempo no limbo blogueiro, finalmente estou com bastante vontade de escrever. O problema é que ando achando tudo o que escrevo uma bela de uma droga (agora mesmo precisei me recuperar de uma vontade psicótica de apagar vários posts antigos). As ideias ficam assanhadas na minha mente e o anjinho me diz para postar, enquanto o diabinho puxa meu cabelo e argumenta que o melhor é desistir, ou voltar de uma vez pro limbo. Me cansei dos dois e resolvi ficar no meio termo, apelando para um meme. Assim não deixo de escrever e ao mesmo tempo não maltrato tanto a crítica cruel que existe aqui dentro. Minha amiga Analu me convidou a responder essas 15 perguntas (que não consigo deixar de ler com sotaque português) da tag Palavras Cruzadas, criada pela Inês, do Ines Books. Demorei, é verdade, mas cá estou eu.
1. Vox Populi (um livro para recomendar a toda a gente)
Se tem um livro subestimado nessa vida, este é A Vida em Tons de Cinza, da Ruta Sepetys. Até as amigas que costumam conferir minhas indicações com certa rapidez não parecem ter se convencido totalmente (I’m looking at you). Talvez seja o título, que remete àquele sucesso editorial inexplicável, a capa modesta ou o pouco burburinho que existe em torno dele. Falta de propaganda minha não é. Tenho um vídeo sobre ele e foi o melhor livro que li no ano passado. Os personagens são cativantes, o tema é pertinente, a jornada ensina. A autora foi brilhante ao retratar o sofrimento dos povos bálticos, deportados pela polícia secreta soviética para campos de trabalhos forçados na Sibéria. Ela transformou aquele parágrafo perdido no livro de história em algo inesquecível. Tem todo o potencial para ser universalmente amado, só é preciso dar uma chance. Ainda não se convenceu? Veja isso aqui.
2. Maldito Plágio (um livro que gostaríamos de ter escrito)
Quando eu penso em mim mesma como escritora, me vejo escrevendo contos. O que não faz o menor sentido, já que eu nem gosto tanto assim de ler contos. A verdade é que não devo me achar lá muito capaz de terminar um romance inteirinho. Mas se Erico Verissimo escreveu aquela maravilha chamada Música ao Longe em 20 dias, por que não eu (com um prazo bem maior, claro)? Em um dos seus vídeos incríveis, Ariel Bissett diz que autor favorito é aquele com quem temos uma certa conexão mental. Me sinto dessa forma com Erico desde sempre. Partilhamos até mesmo essa história de escolher com cuidado os nomes dos personagens. Além disso, esse livro me dá quentinho no coração, o que casa perfeitamente com meu desejo de escrever algo que as pessoas leiam numa varanda, sentindo a brisa no rosto e sorrindo o tempo todo.
3. Não vale a pena abater árvores por causa disto
Eu parto do princípio de que toda a leitura é válida, até mesmo as ruins. Só que nós poderíamos ter passado sem Diário de uma Paixão, né? Nada pode ser pior do que um romance onde o casal protagonista não convence nem por um segundo. Um enredo lacrimoso que só te faz chorar de raiva e sentir vontade de jogar o exemplar (quem nem é seu) na primeira janela que aparecer. Pelo menos serviu para constatar que Nicholas Sparks não é pra mim.
4. Não és tu, sou eu (um livro bom, lido na altura errada)
Pense naquela TPM desgraçada, quando nem todo o chocolate do mundo consegue deter a sua impaciência. Foi num dia assim que cometi um pecado imperdoável com Reparação, do Ian McEwan. Lembro de ter começado bem, me impressionei com a escrita e fiquei intrigada com a protagonista. No terceiro dia de leitura, a irritação tomou conta de mim. A narrativa me deu angústia, nada se desenvolvia e a situação foi ficando insustentável. Aí… eu li o final. Nunca façam isso. Pelo menos não com este livro. Minha idiotice destruiu toda a experiência de leitura e, se já estava me arrastando, a coisa ficou ainda pior. Preciso reler e dar a atenção que ele merece. Enquanto o momento não chega, pretendo me aventurar com outros livros do autor.
5. Eu tentei... (um livro que tentamos ler, mas não conseguimos).
Me orgulho muito de ter o gosto literário variado, mas encontrei meu calcanhar de Aquiles com Eu, Robô e O Guia do Mochileiro das Galáxias. Ficção científica simplesmente não funciona comigo. Acho extremamente complicado me envolver com argumentos viajadíssimos nesse nível. Mesmo assim, sou persistente e ainda espero encontrar o livro do gênero que vai explodir minha cabecinha. Indicações são bem vindas.
6. Hã? (um livro que lemos e não percebemos nada OU um livro que teve um final surpreendente)
É difícil fugir de spoilers dos clássicos e agradeço ao universo por ter me livrado de muitos deles. Fico especialmente feliz por ter lido O Grande Gatsby sem saber o que me esperava. Tio Fitz foi genial ao moldar toda a narrativa para convergir no maravilhoso clímax. I didn’t see that coming! Recomendo fortemente que vocês fujam de qualquer espírito de porco disposto a contar o final. Vale a pena se surpreender durante a leitura.
7. Foi tão bom, não foi? (um livro que devoramos)
Eu absolutamente amo comer livros com arroz, feijão e batata frita! Na minha listinha das “melhores coisas do mundo”, isso está no top 10. Consigo me lembrar de várias experiências literárias que poderiam ser colocadas aqui, mas A Revolução dos Bichos, do George Orwell, é forte candidato ao posto de “livro que li mais rápido na vida”. Ele é curtinho, eu sei, mas já enrolei semanas para ler coisas menores! Foi tipo um encontro mágico, ou coisa parecida. Gritinhos de “que foda!” e “meu Deus, que treco genial” a cada página virada, vontade de obrigar todo mundo a ler e discutir sobre todas as metáforas geniais inseridas ali. Em duas horas (de puro deleite), eu havia terminado. Me segurei para não começar a reler em seguida.
8. Entre livros e tachos (uma personagem que gostaríamos que cozinhasse para nós)
Gostaria muito que a Calpurnia, de O Sol é Para Todos, preparasse um dos seus quitutes maravilhosos para mim. Eu sentaria na mesa com o Jem e a Scout, tagarelando sem parar sobre o pai deles ser o meu herói. Que saudade desse livro. Muito obrigada pelo meu clássico preferido, Harper Lee.
9. Fast Foward (um livro que podia ter menos páginas que não se perdia nada)
Não me entendam mal, eu amei A Trama do Casamento e não estou em posição de reclamar do quanto o Jeffrey Eugenides escreve, já que este homem insiste em me fazer esperar anos por novas publicações. Porém, o fato de ter pensado na quantidade de páginas mesmo devorando o livro, deve querer dizer alguma coisa. O capítulo sobre leveduras, por exemplo… precisava mesmo daquilo? Umas 100 páginas a menos não fariam mal, vai.
10. Às cegas (um livro que escolheríamos só por causa do título)
Um dos meus favoritos da vida foi escolhido justamente por causa do título. Quando a Taryne de 16 anos pediu A Menina que Roubava Livros para a madrinha, não fazia ideia do que esperar. Só sabia que precisava saber o porquê da tal menina roubar os livros e também descobrir o significado por trás daquela capa linda (nunca vou respeitar a capa daquele filme horroroso). Agradeço muito à Tary do passado. Devo essa história a ela (e à madrinha Tetê).
11. O que conta é o interior (um livro bom com uma capa feia)
Uma vida interrompida é outro livro subestimado (e outro que tem uma adaptação cinematográfica vergonhosa). Susie Salmon, a protagonista, morre de um jeito cruel e acompanha a família lá do céu. Olha essa premissa! Nunca vou entender como as pessoas não se interessaram. Só podem ter sido assustadas por essa capa medonha, com a modelo de olhos injetados fazendo cosplay de Laura Palmer.
12. Rir é o melhor remédio (um livro que nos tenha feito rir)
Eu poderia citar Sophie Kinsella, que tem sido rainha suprema nessa categoria, mas hoje vou de Oscar Wilde. O Fantasma de Canterville me fez dar muita risada com as ironias do autor, que aborda a rivalidade entre americanos e ingleses do jeito mais inusitado possível. O pobre fantasma do título é aterrorizado pelos novos moradores da casa que assombra e a gente morre de rir, enquanto Oscar Wilde critica a sociedade vitoriana.
13. Tragam-me os Kleenex, se faz favor (um livro que nos tenha feito chorar)
A maior choradeira da minha vida foi com Meu Pé de Laranja Lima, do José Mauro de Vasconcellos, no segundo ano do Ensino Médio. Lembro que a minha mãe ligou logo quando eu tinha acabado de fechar o livro e ficou imediatamente assustada, achando que alguém havia morrido. Aqueles acontecimentos me doeram na carne. Quis adotar o Zezé, curar todas as feridas dele, plantar um pé de laranja lima no quintal de casa. Meu sonho é reler, mas sei que fiquei mais mole com o tempo e tenho medo de não conseguir mais sair da cama de tanto sofrimento (é sério).
14. Esse livro tem um V de volta (um livro que não emprestaríamos a ninguém)
Olha, me chame de egoísta o quanto quiser, mas só empresto os meus livros quando tenho plena confiança na índole do leitor em questão. E não tô falando de caráter e sim do modo como a pessoa trata os livrinhos. Se Gandhi marcasse página com a orelha dos livros, ele jamais encostaria nos meus. Dito isso, deixo registrado que nunca vou emprestar O Noivo da Princesa, do William Goldman. Encontrar este livro no sebo da minha cidade foi melhor do que ganhar na loteria. A versão traduzida de The Princess Bride teve pouquíssimas edições e é muito difícil de ser encontrada.
15. Espera aí que eu já te atendo (um livro ou autor que estamos constantemente a adiar)
Minha relação com Gabriel García Marquez sempre foi a seguinte: nunca li, sempre amei. Ainda não consegui ânimo para tirar o “nunca” desta frase e encarar O Amor nos Tempos do Cólera. Anna Vitória vive me dizendo pra deixar de besteira, mas tá complicado. Já comecei a ler incontáveis vezes e nunca passei da página 10. É uma vergonha, eu tenho total consciência disso, e se disser há quanto tempo ele mora na minha estante, vocês choram. Tenho a esperança de que um dia aquele livrinho azul me atraia feito comida de desenho animado e eu não consiga me desvencilhar dele até terminar. Até lá, sigo adiando, com o coração na mão.
Love, Tary