Já me conformei em gostar de certas coisas que me doem. Parece masoquista apreciar algo que gera um pequeno sofrimento, mas minha pretensão nunca foi ser normal mesmo. Por isso, deixo claro neste exato momento que acho melancolia uma palavra extraordinária. Uma das poucas que expressa seu significado em cada sílaba. Experimente sussurrar ‘melancolia’ em alguma madrugada dessas e me diga se o som também não é dolorido na medida certa.
Sei exatamente quando ela me atinge porque vem de mãos dadas com um certo conformismo que não me é característico, mas que acaba me deixando serena. Acho que aprendi a conviver com a melancolia porque a dor é suportável e vem carregada de criatividade. Faz com que eu olhe pra dentro de mim. A tristeza pura e simples não me deixa esperançosa nem me empurra pra frente. Mas a melancolia me faz ter vontade de pintar os lábios com meu melhor batom e jogar por cima da cabeça o vestido que mais me cair bem. Os olhos não estão alegres como costumam ser, mas a cabeça fervilha.
Melancolia é aquele vento frio que me faz abraçar a mim mesma e fechar os olhos como num pedido. É jogar o cabelo na direção contrária e sorrir aquele sorriso triste que não é destinado pra ninguém a não ser pra você mesma. A melancolia me faz ouvir os discos da Legião Urbana de cabo a rabo enquanto encaro o teto do meu quarto. Me faz mais bonita na minha solidão. Como se eu fumasse um cigarro na sacada de casa sem fumar nada nem ter sacada em casa. Como se eu vivesse mil vidas dentro de um só corpo. A melancolia dói, mas impulsiona. Fere, mas também ajuda a cicatrizar. É uma parte mais triste da gente, sim. Mas uma parte que precisa existir.
Maria Lúcia aprova esse post
Love, Tary
Meu Deus, que texto maravilhoso. Eu acho tudo isso aí, mas nunca tinha pensado pra confabular meus achismos! Você definiu tão bem a melancolia, a dor sutil que ela traz de madrugada, a resiliência que a acompanha tão bem (outra palavra que eu acho fantástica, experimente falar devagar, ela também carrega seu significado em cada sílaba), a vontade de se abraçar sozinho, de passar batom, e MEU DEUS, a vontade de fumar na sacada, mesmo odiando cigarro e não tendo sacada! Vai pro mural. <3
ResponderExcluirQuis logo vir por ver que a Analu postou no mural dela esse texto e posso dizer? Acho esse texto maravilhoso. Pode parecer irônico por tratar de um sentimento nada bom mas a forma como escreveu, usou as palavras certas e descreveu melancolia num ver poético que me faz pensar que qualquer madrugada se torna inspiradora ao ler isso. Adorei, beijos!
ResponderExcluirAmei esse texto, ainda mais nessa manhã de segunda-feira em que eu estou igualmente cheia de raiva e de uma tristeza que sei lá de onde vem. Quer dizer, achava que era tristeza, mas é só melancolia. Acho que sempre fui assim, a menina de sorriso meio triste, mas que de vez em quando consegue libertar a cabeça desse estado de espírito e sorrir de verdade. Eu só lembro da poesia do Poetinha:
ResponderExcluir"Senão é como amar uma mulher só linda
E daí?
Uma mulher tem que ter
Qualquer coisa além de beleza
Qualquer coisa de triste
Qualquer coisa que chora
Qualquer coisa que sente saudade
Um molejo de amor machucado
Uma beleza que vem da tristeza
De se saber mulher"
Beijo, Tary!
Amo você e esse texto me caiu como um cigarro na sacada, embora eu também odeie cigarro e nem sacada tenha! <3
Ai, Taryne, fiquei com vontade de chorar, sério!
ResponderExcluirGeralmente eu evito pensar em coisas melancólicas, sabe, e quando eu penso, não consigo passar batom vermelho, não penso em fumar o cigarro na sacada...Porque o sentimento quase nunca está presente, então quando ele chega, ele me deixa de cama, sem vontade de viver, chorando um minuto após o outro. Sou estressada, por vezes pessimista e quase nunca acredito no meu potencial, mas estou numa fase de mudar tudo isso porque acho que a nossa missão é deixar a vida mais leve.
Mas o seu texto ficou muito bonito, muito poético, apesar de eu ficar triste por você ser conformada com a melancolia.
Belíssimo. <3
Beijos :)
Concordo com a Analu, achei o texto maravilhoso. Só não sei se minha definição de melancolia é a mesma que a sua, amiga, porque eu vivo melancólica. De verdade. E a melancolia bate de uma maneira pior que a tristeza, porque quando estou triste, ao menos sei o motivo. Melancólica, raramente sei. Eu só sinto vontade de ficar sentada, com o mundo todo parado ao meu redor, sem emitir ou ouvir qualquer som. Eu fico vazia, não cheia de criatividade e brilho. Vazia, simplesmente. Vazia do tipo que me faz ouvir "The Blower's Daughter" over and over. N ão vejo beleza nisso...
ResponderExcluirEu nunca usaria um batom vermelho nesses meus momentos.
Mas, ainda assim, fico feliz que sua definição seja mais colorida que a minha.
Beijo <3
Eu acho a melancolia extremamente poética, Tary. Eu já fui mais melancólica do que sou hoje, por isso eu acho que sei apreciar bem esses momentos quando eles aparecem. Não é bom ser melancólica, mas passar por um momento de melancolia me faz mais confiante, mais madura, como se eu realmente tivesse vivido "mil vidas dentro de um só corpo", num só instante. Parece que o tempo para quando eu tô melancólica. É uma daquelas coisas que te fazem ser quem você é e isso é gratificante.
ResponderExcluirAinda preciso dizer que amei o post? ;)
PS: Eu também acho resiliência uma palavra fantástica! Ainda mais quando sussurrada no meio da noite, quase como um lembrete <3
(Antes mesmo de ler o post, pra não esquecer de falar disso: seu blog tá tão lindo! Céline e Jesse no topo - mal posso esperar pra vê-los de novo na sexta -, a Anne de Jane Austen na lateral, e você tá lendo Erico Verissimo! Fora essas cores lindinhas: adoro azul com rosa)
ResponderExcluirAgora sobre o post (a primeira parte do meu comentário destoa completamente, mas eu não poderia deixar de dizer aquilo): achei o texto maravilhosamente escrito, e queria que a minha melancolia fosse assim também. A melancolia também faz com que olhe pra dentro de mim, mas isso não me inspira. Não tenho vontade de pôr um vestido bonito e levantar a cabeça - e se faço isso, é só poque preciso.
Eu aprecio a melancolia nos livros, nos filmes, nas músicas, na arte. Mas quando ela chega pra mim, não é inspiradora. Queria que fosse.
Tary, sua linda. Sempre emocionante passar por aqui e ler seus textos.
ResponderExcluirCalma aí que veio uma porrada de cada lado. Primeiro eu entro e vejo Celine e Jesse ali e vejo esse título e fiquei "será que Tary vai falar deles? mas pra mim eles são sinônimo de melancolia inconformista", aí depois veio esse texto e eu só quero ficar em posição fetal.
ResponderExcluirTambém já me conformei em gostar do que me dói. Acho até que prefiro. Gente que gosta de sentimentos muito fortes não fica bem com alegria pouca, tem que ter algo mais forte. Esses cigarros sem fumar em sacadas que não existem.
Sei lá, se a gente não ficar melancólico por um dia, como aproveitar o resto? E alguém já disse que existe uma certa beleza na melancolia. Já começa na palavra, né?
Você é incrível Obrigada por existir.
Beijo! <3
Tary, já li esse post várias vezes desde a hora que você publicou, sempre me perguntando o que eu ia comentar. Porque né. Você me roubou qualquer palavra e qualquer coisa que eu pudesse expressar a respeito, traduziu perfeitamente qualquer impressão que eu pudesse ter sobre esse assunto.
ResponderExcluirEu tenho vocação para a melancolia também, mas confesso que meu buraco é mais embaixo e eu sou voltada pra tragédia, pro fatalismo, pra mania de contemplar destinos inevitáveis e sofrer molhando o travesseiro e tomando uma garrafa de vinho mesmo sem beber. Pra no outro dia acordar refeita, passar batom vermelho e vestir um vestido novo porque eu sobrevivi. Sabe como é?
E sendo menos sentimental e mais ~referencial~, lembrei de Melancholia, o filme. Claro. Não lembro se você já viu e se não VEJA SENÃO EU VOU TE DEMITIR DA MINHA VIDA. Ele mostra muito isso da fascinação pelo abismo, é bonito demais e ao mesmo tempo muito desesperador. Haja cigarros pra menina Kirsten Dunst fumar na sacada!
Odiei meu comentário, mas seu texto basta por si só. Me ame por isso, porque eu te abo debais! <3
Tem vezes na madrugada que eu fico olhando para o teto por muito tempo, pensando em nada e em tudo ao mesmo tempo. Não tinha nome para isso até agora. É a tal da melancolia. Mas, na maioria das vezes, ela vem acompanhada com todos os meus medos e eu fico sem ar, sabe? Eu paraliso diante dela, porque não consigo lidar. Sempre que consigo, tento desviar meus pensamentos para outras coisas...quase nunca consigo. Enfim, sei lá, não sei. A melancolia faz parte da gente mesmo. E por mais triste que seja, nos faz, né?
ResponderExcluirBeijo.
Te amo! <3
Melancolia me faz ouvir o acustico do capital inicial com as luzes apagadas e as pernas encostadas na parede, porque melancolia me faz sentir como se meu mundo estivesse de cabeça pra baixo, e naquele momento, nem que seja somente durante aquele tempo, está. Eu ando meio melancolica demais pro meu gosto, com vontade de me enrolar em posição fetal e pensar na vida, me perder dentro de mim...
ResponderExcluirMelancolia também deixa a gente mais poetisa né? Eu hein rs
beijos Tary!
Cara, esse post.... sério, você me deixou sem palavras. Como é que conseguiu exprimir tão bem uma coisa que eu, pelo menos, sempre senti, mas nem conseguia definir?
ResponderExcluirNossa. Simplesmente perfeito. Obrigada por esse texto, de verdade. ♥