sexta-feira, 21 de junho de 2013

Tem tanta coisa errada que não cabe em um post

E não é só no País. É nas manifestações também. Sobre os trolls adeptos do vandalismo eu nem vou comentar, mas também tem quem hostilize partidários e jornalistas. Eu vivo dizendo que “meu partido é um coração partido”, que nem na música do Cazuza, sabe? Porque não me identifico totalmente com nenhum. Direito meu. E em certo momento até concordei com a maioria: as bandeiras levantadas durante o manifesto não iam ornar muito com o foco da coisa toda. Mas aí eu entendi que estava sendo ingênua.

Tem gente querendo abolir partidos políticos! Tem gente querendo bater em quem tá vestido de vermelho. Calma aí, galera. Fascismo? É isso mesmo? Quem pensa diferente merece apanhar e ser expulso de um treco democrático? Caralho, o que eu tô fazendo no meio desse povo? Me tirem daqui, pelo amor de Deus.

Mas não é só isso. Caco Barcellos acuado por um bando de gente babaca. Eu e meus amigos tendo que trabalhar com o crachá no bolso. Gente dizendo que jornalista merece tiro na mão “porque só escreve merda”. Falar que rolou vandalismo quando realmente aconteceu é “escrever merda”. Quanto ódio. Quanta fúria cega. E que medo disso tudo acabar com o fim da democracia. Parece idiota pensar assim, né? Há alguns dias eu também acharia, mas agora confesso meu pânico. Minha vontade de dormir até que a violência pare. E mais uma vez, não tô falando só do vandalismo.

O movimento devolveu minha vontade de pensar mais sobre política, de me envolver mais, de ler mais a respeito. Acho que isso aconteceu com muita gente. E tem muitos méritos, claro. Mas agora eu não quero mais abrir site de notícias e ver gente ensaguentada, fogo e pichação. Quero que todo mundo serene e pense sobre tudo isso. Legião perguntava ‘quem roubou nossa coragem?’. Agora eu me pergunto: se devolveram nossa coragem, quem roubou nossa razão? Vou ser piegas e dizer que toda luta precisa de paixão, de causa. E eu tô vendo mais raiva do que amor pelo País. Daqui uns dias a gente vai parafrasear Legião pra dizer: “e hoje em dia? Como é que se diz eu te amo?”. E eu tô com medo de não saber mais a resposta.

Love (mais do que nunca, por favor), Tary

P.S: Não falei de quem vai em protesto pra micaretar e postar foto no Instagram porque quis focar no ódio. Mas fica minha revolta (e náusea) também.

sexta-feira, 14 de junho de 2013

Forjei asas nos teus pés

Pois eu acho que às vezes a gente sabota as coisas de propósito. Seja porque não quer mais, porque tem medo ou porque de repente não se sente merecedor. Acordamos com aquele pânico que não sabemos de onde vem, mas que nos faz empurrar quem nos abraça pra bem longe e fugir sem nem olhar para trás. Quase um instinto de sobrevivência. 

O quarto da gente e os nossos sonhos são tão seguros e quentinhos que só de pensar em sair deles e mergulhar no desconhecido já antecipamos a dor, já queremos refazer as malas sem nem ter colocado todas as roupas dentro do armário. Sentimos aquela urgência no corpo que diz: vá embora. 

Ser vulnerável não é um defeito, mas é foda. A gente se camufla de forte pra esconder que tem centenas de fraquezas, finge não conhecer todas elas e finge não estar se reconhecendo quando as demonstra. Porque saber quem somos de verdade assusta pra caramba. E aí preferimos nem saber.

Mas um dia a gente cansa de nunca se desarmar. Se cansa de precisar se perder tanto pra finalmente se encontrar. E quantas vezes não forjamos asas nos pés dos outros só pra que eles partam antes de nós? Temos medo de que quanto mais de perto nos vejam, mais rápido as nossas defesas despenquem. Mas tudo bem. 

Um dia a gente aprende que receber a vulnerabilidade das mãos do outro e entregar a sua nas dele não mata. Um dia a gente consegue viver sem complicar tanto, sem desmistificar tudo o que nem era mito. Um dia a gente dobra todas as roupas dentro do armário e empurra a mala vazia pra debaixo da cama. Um dia a gente resolve ficar. E fica.

Os dias que eu me vejo só
São dias que eu me encontro mais
E mesmo assim eu sei tão bem
existe alguém pra me libertar.

Condicional – Los Hermanos

Love, Tary

segunda-feira, 10 de junho de 2013

Melancolia conformista

Já me conformei em gostar de certas coisas que me doem. Parece masoquista apreciar algo que gera um pequeno sofrimento, mas minha pretensão nunca foi ser normal mesmo. Por isso, deixo claro neste exato momento que acho melancolia uma palavra extraordinária. Uma das poucas que expressa seu significado em cada sílaba. Experimente sussurrar ‘melancolia’ em alguma madrugada dessas e me diga se o som também não é dolorido na medida certa.

Sei exatamente quando ela me atinge porque vem de mãos dadas com um certo conformismo que não me é característico, mas que acaba me deixando serena. Acho que aprendi a  conviver com a melancolia porque a dor é suportável e vem carregada de criatividade. Faz com que eu olhe pra dentro de mim. A tristeza pura e simples não me deixa esperançosa nem me empurra pra frente. Mas a melancolia me faz ter vontade de pintar os lábios com meu melhor batom e jogar por cima da cabeça o vestido que mais me cair bem. Os olhos não estão alegres como costumam ser, mas a cabeça fervilha.

Melancolia é aquele vento frio que me faz abraçar a mim mesma e fechar os olhos como num pedido. É jogar o cabelo na direção contrária e sorrir aquele sorriso triste que não é destinado pra ninguém a não ser pra você mesma. A melancolia me faz ouvir os discos da Legião Urbana de cabo a rabo enquanto encaro o teto do meu quarto. Me faz mais bonita na minha solidão. Como se eu fumasse um cigarro na sacada de casa sem fumar nada nem ter sacada em casa. Como se eu vivesse mil vidas dentro de um só corpo. A melancolia dói, mas impulsiona. Fere, mas também ajuda a cicatrizar. É uma parte mais triste da gente, sim. Mas uma parte que precisa existir.

Maria Lúcia aprova esse post

Love, Tary

sábado, 1 de junho de 2013

Se não fossem as malas cheias de memórias

Se não fossem as agendas de todos os anos e os milhões de planos, não seria eu. Se não fossem os desenhos pelas madrugadas, se não fossem as estradas, não seria eu. Se não fosse o Rei Leão, a sereia que queria ser humana e os domingos jogada na cama, não seria eu. Se não fossem as histórias sobre bruxas más, toda essa infâmia e o quarto lilás, não seria eu.

Se não fosse pão com mel e requeijão e as coisas todas espalhadas pelo chão, não seria eu. Se não fosse Fátima do Sul, o vento fresco, o céu azul e as férias em Camboriú, não seria eu. Se não fosse o Cazuza, o Caio F. e as corujas, não seria eu. Se não fosse a Sessão da Tarde, O Castelo Rá-Tim-Bum e sempre o maior alarde, não seria eu. Se não fosse o vestido rodado, os fones nos ouvidos e o suor sagrado, não seria eu. 

Se não fosse tão perdida, com as unhas coloridas e a esperança no 'ridículo da vida', não seria eu. Se não fosse o bisavô com mais de cem, o preciosismo e uma pitada de desdém, não seria eu. Se não fosse o óculos de grau, o YouTube, o cinema e Clarissa em seu quintal, eu não seria eu.

***

Esse é o meme “Capitão Gancho”, inspirado na música de mesmo nome, da querida da Clarice Falcão. Quem inventou foi a Analu, mas eu fui indicada pela Rafitcha. Uma das regras é indicar pessoas, pois bem: indico a própria Analu (que inventou, mas não fez ainda, hahaha) Mileninha, Michas, Flavitcha e a sumida da Carol.

Love, Tary