terça-feira, 25 de setembro de 2012

Missão do dia: ajudar a blogueira com o TCC

Tenho esse blog há quase três anos e acho que nunca pedi ajuda de quem me lê aqui, mas agora esse momento chegou! Como alguns de vocês já sabem, me formo esse ano. É, no final de 2012, se tudo der certo, o mundo terá mais uma jornalista. E se tudo der mais certo ainda, alguma redação poderá contar com uma foca recém saída do forno. Só que para tudo isso acontecer, preciso passar pelo Trabalho de Conclusão de Curso. Aham, ele mesmo, o temido TCC. Escolhi fazer uma revista sobre literatura porque sou apaixonada por revistas e mais ainda por livros. E disso vocês já devem estar cansados de saber, não é? Pois bem, resolvi unir as duas coisas e estou bastante feliz, apesar de não ter mais tempo pra nada e só saber pensar nisso o dia inteiro.

Tudo explicado e entendido? Então vamos ao pedido: Haverá uma parte na revista dedicada a fotos dos leitores com os livros que estão lendo. E eu gostaria de pedir que todos vocês que passam por aqui (leitores-fantasma, vocês também!) - me enviem suas fotos até o próximo domingo,  dia 30 desse mês. As fotos precisam ter uma boa qualidade e não podem ser alteradas com photoshop, filtros do Instagram e etc. Junto com a foto, preciso que me mandem os seguintes dados:

Nome Completo
Profissão ou Ocupação
Cidade/Estado
Idade
Nome do Livro/ Autor

Também quero que deixem por escrito no e-mail: “Eu autorizo a publicação dessas imagens na revista Literatour. Assinado, Fulano”. 

Outro adendo: sei que a maior parte dos leitores do blog é composta por mulheres, por isso, os poucos meninos não podem se acanhar, viu? Preciso muito das fotos de vocês! E as meninas que tiverem namorados e amigos (os papais também!) dispostos a posar – se  eles não estiverem dispostos, convençam eles, haha! –, isso seria maravilhoso.

Ok?

Conto com a ajuda de todos! Obrigada desde já! Qualquer dúvida eu respondo nos comentários.

O e-mail: revistaliteratour@gmail.com

P.S: As fotos serão selecionadas, mas eu preciso do maior número de opções possível! Mesmo que sua foto não seja publicada, sua colaboração é necessária e será muito apreciada (:

domingo, 23 de setembro de 2012

Harmonica

Alguma coisa acontece no meu coração e não, não é quando cruza a Ipiranga ou a  Avenida São João. É involuntário e às vezes me parece até sobrenatural o efeito que provoca em mim. Meus olhos se fecham imediatamente e a cabeça sente vontade de se enfiar em qualquer janela aberta por onde corra muito vento. Se estiver de pé, sinto o corpo enfraquecer.  E se estiver deitada, me agarro mais ainda ao travesseiro e fico sonhando, perdida por um jardim coberto de folhas canadenses.

Não se enganem, caros leitores. Não achem que estou falando de um cara.  Bom, poderia até ser sobre um cara, mas aí ele teria que tocar gaita.  É isso mesmo. Essas sensações todas aparecem quando escuto esse instrumento que, pra mim, é o mais bonito de todos. A herança deve ter vindo do meu bisavô paterno, gaiteiro de mão cheia. Ou das tantas gaitas que ganhei de presente do meu pai quando era criança. Lembro de colocá-las na boca e tocar apenas de brincadeira, só pra fazer barulho, mas sem deixar de ficar frustrada por não conseguir tirar músicas belíssimas dali.

O som da gaita não é extremamente delicado como o da flauta e nem tem toda a elegância de um violino. Parece grave demais e até bruto em um primeiro momento, mas acaba por te fazer chorar porque – e neste momento serei piegas – te alcança a alma.

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De todas as músicas bonitas que têm gaitas no meio, a minha favorita deve ser “Come pick me up” na versão do Ryan Adams. Está na trilha sonora maravilhosa de Skins e toca exatamente quando os trens do Sid e da Cassie se desencontram. E acaba comigo. Porque fala de um garoto arrasado por causa de uma mulher que deve ser a maior filha da mãe da história. Cantando, ele pede: “Come pick me up, take me out, fuck me up, steal my records, screw all my friends behind my back, with a smile on your face, and then do it again, I wish you would”. E, nos intervalos dessas palavras, a gaita aparece feito um lamento rouco e meu coração se quebra em milhões de pedaços.

Mas não é para extravasar meu amor pelo instrumento que estou escrevendo isso. É que preciso deixar registrado um desejo. Algum dia na minha vida eu vou aprender a tocar gaita. Nem que seja uma música só ou um trecho curtinho. Mesmo que eu já esteja velhinha demais e não consiga mais quebrar o coração de ninguém. Por nenhum motivo especial, sabe? Só porque – meu Deus do céu - é bonito demais.

Esse post não fará sentido algum se você não ver o vídeo abaixo:

Mandy Moore, te admiro mais por ter se casado com um cara que toca gaita…

 

Love, Tary

terça-feira, 18 de setembro de 2012

Primeiras impressões mentem (18/29)

– Mas não é só isso. – ele apertou meu corpo contra o seu e continuou – Eu fiz todos os testes que eu pude para garantir que a injeção é segura, mas meus recursos são muito limitados. Tenho medo de que possa acontecer algum efeito colateral. Não quero te causar nenhum mal.
– Alex, eu já resolvi. – afastei-me um pouco e olhei dentro de seus olhos decidida – Eu quero fazer isso.

Ele fechou os olhos, respirou fundo e perguntou:

–  Tem certeza? Apesar de ser essa a maneira que encontrei para ficarmos juntos, estou um tanto quanto inseguro. Não acredito que vá acontecer qualquer coisa de ruim, mas qualquer possibilidade de risco que envolva a mulher que eu amo… –  ele não conseguiu terminar a frase. Apenas voltou os olhos para os meus com uma expressão de desespero que fez os pelos do meu braço se arrepiarem. Percebi que sua próxima ação seria desistir de tudo por causa daquela necessidade estúpida de me proteger o tempo inteiro. Então, me adiantei.

–  Claro que eu tenho certeza! Deixe de bobagem e aplique essa injeção de uma vez.

Segurei as mãos dele  e cravei no rosto um sorriso enorme. Enorme e completamente falso. Por dentro, eu estava  tremendo. Lutando para esconder o pavor em algum canto de mim mesma que Alex não tivesse acesso.

Ele não parecia totalmente convencido, mas assentiu e me obedeceu. Virou as costas para mim e pegou a seringa no bolso do casaco  Pediu para que eu me sentasse e se sentou ao meu lado, de cabeça baixa. Pensei que fosse acabar logo com aquilo, mas alguns segundos se passaram sem que fizesse qualquer movimento.

De repente, levantou o rosto para mim e, sem que eu pudesse prever, me beijou. Puxou meu lábio inferior para si e apertou os meus cabelos com a mão livre. Mas não foi um beijo apaixonado comum como os muitos que já havíamos trocado. Ele me beijava com urgência, como se achasse que eu iria  desaparecer no minuto seguinte. Mesmo envolvida no beijo, senti meu sangue gelar.

Alex se afastou de mim com a mesma rapidez com a qual havia se aproximado. Pegou um elástico que estava em cima da mesa e o envolveu em meu braço. Limpou a área com um algodão embebido em álcool. Seus gestos eram metódicos e frios, como os de um profissional. Minhas veias foram aparecendo, ele posicionou a injeção e então, finalmente, a agulha perfurou minha pele. Alex apertou a seringa e o líquido transparente começou a desaparecer daquele objeto que o amor da minha vida segurava.

– Diana, você está bem? –  O profissional de antes sumiu por completo e deu lugar a um menino indefeso, preocupado com a namorada.

– Estou! – E estava mesmo. O medo havia desaparecido e eu já queria me levantar e gritar para o mundo que tudo ficaria bem. Que nós ficaríamos bem. 

Alex pressionou um algodão no furo em meu antebraço e depois cobriu o pontinho de sangue com um band-aid. Parecia feliz. Não, feliz não, ele estava aliviado. Assim que se livrou de todo o material cirúrgico, pegou as minhas mãos e fez com que eu saísse do sofá e fosse ao seu encontro.

No momento em que fiquei de pé, percebi que havia algo errado.

Uma dor de cabeça excruciante me atingiu como se eu tivesse levado um tapa na parte de trás do pescoço. Meus olhos ficaram turvos e senti minhas pernas amolecerem. Abraçado ao meu corpo e ainda de pé, Alex era puro terror. Ele estava gritando alguma palavra que parecia ser meu nome, mas eu já não ouvia mais nada. A dor não permitia.

Mesmo com a visão embaçada, olhei pela janela e vi. Uma mulher. Eu já a havia visto antes, mas não conseguia me lembrar direito. Ela sorria de um jeito maníaco e parecia completamente satisfeita com alguma coisa. Entretanto, antes de tudo ficar escuro e antes de eu desmaiar nos braços de Alex, um nome veio à minha mente e quis morrer por não conseguir proferí-lo para o meu amor antes de perder os sentidos:

“Camila”.

(1/29) (2/29) (3/29) (4/29) (5/29) (6/29) (7/29) (8/29) (9/29) (10/29) (11/29) (12/29) (13/29) (14/29)(15/29) (16/29) (17/29)

Sejam bem vindos ao meme de comemoração do aniversário de 1 ano da Máfia! Um conto escrito a 29 mãos. Tudo começou com a Rafa e foi continuando nos blogs listados acima. O trecho no começo do texto é um link para a última parte, de autoria da Paloma. A continuação você confere amanhã no blog da Annoca.

Camila não era uma inocente que precisava ser salva? Por que estava satisfeita com o sofrimento de Diana se ajudou o casal a fugir? Terá sido tudo uma armação?

Não perca a próxima parte!

Love, Tary

domingo, 16 de setembro de 2012

Minha filosofia de vida é rodopiar


A felicidade pela chegada dos meus vinte e um anos começou na sexta-feira, quando recebi três caixas enviadas pelo correio. Isso mesmo, essas três maravilhas estavam me esperando depois de um cansativo dia de trabalho. Enviadas com todo o carinho do mundo por pessoas incríveis e absurdamente queridas. No sábado,  ganhei uma coruja de pelúcia da maninha e de mamis. A nova integrante da coleção. Gorda, enorme e altamente apertante, ela foi batizada de Margot e não sai mais do meu lado. Depois a alegria veio dos céus.  Após um período bastante seco, finalmente choveu. Não foi muito, mas o céu azul, antes substituído pelo mormaço triste, voltou a aparecer, provocando espanto e um sorriso gigantesco no meu rosto. Como eu estava com saudades dos meus céus azuis que me roubam olhares a cada segundo do dia! Chegada a hora de fazer as unhas, a manicure hilária me sugeriu experimentar a tal “filha única”. E eu, sempre tão discreta, fui na onda e resolvi avacalhar tudo, pedindo muito glitter por cima. Não satisfeita, pintei as unhas dos pés de roxo, abandonando o renda e o lilás de sempre. As caixinhas recheadas de amor, a chuva, Margot e a ousadia foram meus primeiros presentes  
 
De noite, quando comecei a me arrumar para ir encontrar meus amigos no barzinho mais bacana da cidade, escolhi a saia jeans mais rodada, uma blusa vermelha com detalhes de renda e uma sandália preta. Fiz uma maquiagem leve nos olhos, passei Rosaréu nos lábios e fiz uma promessa a mim mesma: vou aproveitar tanto essa nova fase que meus problemas se tornarão insignificantes se colocados lado a lado com a minha felicidade.
 
No local combinado, rodeada por pessoas que amo, tive uma noite perfeita. Regada a saqueirinha de morango,  risadas, confissões inconfessáveis e músicas maravilhosas. Eu não sabia, mas era dia de MPB. Tem como não acreditar que esse era mais um presente pra mim? A banda cantou a trilha perfeita para a ocasião. “A Francesa”, “Pais e Filhos”, “Vem quente que eu estou fervendo”, “Perdidos na Selva” e “Open your Eyes”, só pra citar algumas das minhas músicas favoritas que estavam no setlist. Ganhei chocolates da Cacau Show, uma linda blusa de coruja e, depois da meia noite, beijo borrado de batom vermelho na bochecha e um bar inteiro cantando parabéns pra mim. Com o rosto todo corado, não só por causa da bagunça de batom que minha amiga fez, mas por vergonha, claro.
 
Após o mico, muitos abraços apertados e desejos de felicidade. “Podem deixar”, pensei comigo o tempo inteiro. Também fui presenteada com um bolinho que fiz questão de dividir com todos os presentes, apesar dele ser apenas um pouco maior que um cupcake.  Agradeço a todos os amigos que estavam lá por terem compartilhado comigo esses momentos tão especiais. É impossível ser feliz sozinho, já diz a canção. Graças a vocês eu continuo a rodopiar e sempre me levanto depois de uma queda.
 
Ao chegar em casa, explodindo de tão contente, abracei mamãe e vi que uma festa estava me esperando na internet. Como o relógio já marcava 3h da manhã – 4h na maior parte do Brasil - só uma das incentivadoras da comemoração permaneceu acordada. Ela me fez entrar no skype e ligar a webcam enquanto me ajudava a “procurar”. E então, eu encontrei. Post incríveis espalhados pelos meus blogs favoritos. Todos com o mesmo título: Doces Rodopios. Contos. Contos que deveriam ser chamados de sonhos traduzidos em palavras.
 
Então, na primeira madrugada com 21 anos, eu coloquei meu  pingente de nuvem no pescoço e encontrei o amor da minha vida no parque. Citei Cazuza depois de dar de cara com o ‘’the one’’ enquanto rodopiava sozinha na pista de dança. Me tornei meu animal favorito e aprendi a voar. Assisti ao pôr-do-sol do Pantanal com um jacaré ao lado. Fui protagonista de filme francês comparável a uma das minhas personagens mais queridas da literatura. Colhi flores, formei um buquê em minhas mãos e iluminei o mundo.  Se meu pai por acaso tivesse acordado naquela madrugada, teria flagrado as três Zottino debulhadas em lágrimas. Eu eu nem podia imaginar que no dia seguinte, ouviria um ‘eu te amo’ muito aguardado em mais um conto e leria rodeada de árvores como sempre quis fazer, em outro deles.
 
Neste domingo, acordei me sentindo muito amada. Talvez em nenhum dos meus aniversários eu tenha me sentido tão amada quanto nesse. Fui almoçar com minha família e comi de graça – privilégios de ser a aniversariante do dia. Pude provar meu bolo favorito e receber a visita de uma amiga maravilhosa. Na missa, agradeci por ser assim, tão sortuda. Por ter as melhores pessoas do mundo ao meu lado e sempre poder contar com todas elas. Agora estou aqui, depois de horas, finalmente terminando esse post. São 23 horas e 30 minutos. Falta meia hora pra este dia acabar e eu queria que não terminasse nunca, mas estou convicta. Os meus 21 serão mágicos. Esta será a melhor fase da minha vida. Estou pronta pra isso e mal posso esperar. Obrigada, Senhor, por mais um ano. Obrigada, família, por segurar as minhas mãos e me encher de força. Obrigada, amigos, por terem me escolhido.  Que o mundo me receba de braços abertos. Os meus já estão abertos. E girando no ar. Todos tem uma filosofia de vida. A minha é rodopiar.
 
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Me abraça, mundo!
Love, Tary

sábado, 8 de setembro de 2012

Quem vai pegar o buquê lilás?

OIE

Ela acordou com um medo danado de estar atrasada. E estava. Pulou da cama quase jogando o corpo inteiro para fora dela, lavou o rosto e escovou os dentes, com pressa. Jogou algum dinheiro na bolsa e saiu de casa. Assim que colocou o pé na rua, percebeu que deveria ter levado um guarda-chuva: o céu estava quase preto de tão cinza. Mas não havia tempo para voltar, ela teria que correr muito se quisesse pegar o ônibus a tempo e chegar, pelo menos, 15 minutos depois do horário. Senão, iria chegar meia hora depois e teria de aguentar o sermão da chefe do setor, no escritório triste daquele emprego que odiava.

Ser operadora de telemarketing era um castigo para Marina. Sempre que perguntavam sua profissão, ela se encolhia em si mesma e respondia, com o mesmo orgulho ferido de todas as vezes que ouvia da mãe: “tá vendo? Quem mandou nascer sonhadora e ter cursado Cinema? Agora está aí, mal empregada e infeliz”. A garota ficava ainda mais pequena por dentro e concordava com um meneio de cabeça. Por mais que seu coração não se arrependesse, a mãe estava certa. Apesar de ter amado cada segundo do curso de Cinema, o sonho não lhe trouxe um emprego na área. Aquilo doía tanto que ela não conseguiu mais suportar os “nãos” nas entrevistas, as promessas de telefonemas não cumpridas e os currículos que, certamente, não chegavam ao destino certo. Naquela terça-feira nublada, fazia um mês que havia desistido. Seguiu o conselho da mãe, finalmente. Parou de sonhar.

Enquanto corria para pegar o zero-meia-sete, coletivo lotado de todo santo dia, Marina deixava as lágrimas caírem e pensava que a vida pessoal não estava lá muito boa também. Ser traída pelo namorado não era o final feliz que ela tinha escrito pra si mesma em sua mente criativa. Ela sabia que o relacionamento ia de mal a pior, mas não imaginava que César fosse capaz de tamanha cafajestada. Nem sequer pediu perdão, o salafrário. Apenas deu aquele sorrisinho torto idiota e tentou se justificar: “aconteceu, Nina…” Como se aquelas palavras fossem suficientes. Sorte a dela ter esquecido rápido. Não tinha vocação pra donzela sofredora.

Quando estava na esquina do ponto de ônibus, a chuva começou. E não teve aquele início de garoa fria, não. Já veio atrevida, com pingos enormes que foram direto no cabelo escovado na noite anterior. “Nem pra ter colocado um casaco com capuz”, pensou. Marina se protegeu como pôde debaixo da minúscula parte coberta do ponto, desviando o rosto das ondas feitas pelos carros que passavam a toda velocidade, sem se importar com as pobres almas que dependem de transporte público. Chegaria molhada, infeliz e atrasada. Que falta de sorte.

Colocou os fones nos ouvidos e tentou se concentrar na música. Era a trilha sonora de Pulp Fiction, filme que absolutamente idolatrava. Fechou os olhos por um tempinho e tentou sorrir ao se lembrar dos colegas cineastas. A lembrança foi repentinamente destruída pela água cheia de lama com que um Corolla belíssimo a presenteou. Xingou o motorista de todos os nomes possíveis, mas ele seguiu seu caminho sem nem buzinar. Irritada e com vontade de se jogar na frente do caminhão que passava, Marina olhou para trás, tentando esconder as lágrimas.

Mesmo com a visão embaçada,  conseguiu ver uma coisa quase indecifrável jogada no terreno baldio atrás dela, dentro de uma caixa de papelão com abertura virada para a rua. Estava totalmente coberta de lama e parecia… um ramalhete. Coberto de sujeira, claro, mas um ramalhete. Tomada pela curiosidade, ela se aproximou, sem ligar para o temporal, já que estava completamente encharcada. Se agachou e o pegou, sujando as mãos e também as unhas por fazer. Colocou o ramalhete debaixo da chuva e sorriu. Porque conforme o marrom ia sumindo, apareciam lírios. Lírios lindos com uma cor tão bonita que parecia irreal: lilás. Um buquê lilás todo murcho, com uma fita roxa que unia as flores.

Assim que terminou de limpar o buquê, escutou uma voz masculina que dizia: “moça, você vai pegar uma pneumonia…”. Marina olhou. Era um rapaz  de olhos verdes, com um guarda-chuva xadrez: “Quer carona até o terminal no meu guarda-chuva? Esse ônibus deve estar atrasado.” E então ela começou a sorrir mais ainda porque soube, naquele momento que aquilo era a mudança de narrativa no roteiro da sua vida. Ela, que não acreditava em destino e odiava comédias românticas, soube na hora que o rapaz de olhos verdes que salvava a mocinha em perigo não estava ali à toa. Marina levantou, com o buquê lilás em mãos e disse: “Claro”.

Que se exploda o emprego idiota, a chefe mal amada e a mãe. Ela havia sido escolhida sabe lá por qualquer força para pegar aquele buquê lilás: o único resquício de poesia naquele ano inteiro. Alguém tinha jogado os lírios ali por falta de amor, por raiva, por desilusão. Marina não seria mais uma, não deixaria o mundo destroçar um sonho. Pegou carona no guarda-chuva do rapaz, ainda com as flores nas mãos, decidida a pedir demissão. Decidida a não desistir.

Talvez você não acredite, caro leitor, mas parou de chover assim que eles atravessaram a rua. E o cara de olhos verdes - que por sinal se chamava Pedro – também adorava os filmes do Tarantino. O sol apareceu, timidamente. E quando Marina olhou para o céu, pôde jurar que ele estava meio tingido de lilás.

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Love, Tary