Ela saiu do quarto com o cabelo roxo grudado na cara e aproveitou a sensação dos pés quentes desafiando o chão frio. Estava com um livro finlandês horroroso nas mãos e usando uma camiseta enorme do Strokes. Aí sentou no tapete da sala e deu uma boa olhada na tatuagem recém saída do forno e cravada pra sempre no braço esquerdo. Era isso aí. Não se arrependia nem um pouco. Nem mesmo depois da cara assustada dos amigos e do próprio tatuador.
Então correu os olhos pelo apartamento, abarrotado de livros por todos os lados, exceto o quadrado do tapete, ocupado pelo computador e por suas pernas de fantasma. Aquele era o único canto para suas próprias histórias, canções e desenhos. O resto da sala era o mundo inteiro que ela experimentava todos os dias. O quarto só tinha espaço para uma cama de casal cheia de almofadas pretas e um banheiro com a pia grudada na porta. A cozinha, menor ainda, só servia para beber água, toddynho, whisky sem gelo e comer pizza, lasanha congelada, sushi.
Pintar não queria mais. Não tinha espaço pro cavalete e nem pro fogo que trazia pro peito essa história de transformar solidão em colorido. A pintura era só na parede. Junto com um monte de azul, laranja, milhões de frases escritas com canetinha preta, as inevitáveis cartas antigas. E, claro, aquele bilhete.
"Clarissa: cabelo de uva, olho castanho, corpo safado, paixão que pulsa, risada que morde, amor que sussurra... Beijo do teu".
Leu, releu. Levantou e foi em direção à parede. Pegou o bilhete. Leu mais uma vez. Colocou na boca, fechou os olhos e mastigou, mastigou. Sentiu o sabor da tinta, o papel se desmanchando até desaparecer. E ele tão perto, em forma de febre, causando tontura.
Três anos depois, vinte aulas de canto, cinquenta canções escritas, 267 livros espalhados, 5 tatuagens e uma nova paixão. Mas só de lembrar... lábios dormentes, corpo formigando, cacos se formando debaixo dos pés. E aquele gostinho agridoce de vida tomando conta do céu da boca e corroendo a garganta.
"I remember when you came
You taught me how to sing
Now, it seems so far away"
The Strokes
Três anos depois, vinte aulas de canto, cinquenta canções escritas, 267 livros espalhados, 5 tatuagens e uma nova paixão. Mas só de lembrar... lábios dormentes, corpo formigando, cacos se formando debaixo dos pés. E aquele gostinho agridoce de vida tomando conta do céu da boca e corroendo a garganta.
"I remember when you came
You taught me how to sing
Now, it seems so far away"
The Strokes
Love, Tary
Este texto pode ser lido como a continuação de outros três postados aqui no blog em 2010. Hoje em dia o nome da série de contos me parece muito novela mexicana, mas a Clarissa é linda e eu de repente precisei saber como ela estava. Aí aproveitei o meme da Analu.
Nossa, amiga! Baixou o caboclo postador?? HAHAHA.
ResponderExcluirAdorei a história da Clarissa! Ainda não sei como vou escrever a minha, hahaha.
Beijos!
Hahaha! Tem que aproveitar quando ele baixa, né?
ExcluirGeeente AMEI esse texto!!! Super a sua cara, super curto strokes e super curti a Clarissa! Parece a Cassie um pouco, misturada com todos os outros personagens legais, tipo a Clementine de "Brilho eterno de uma mente sem lembranças" etc e tal. Pow, curti demais! Você arrasa Taryne gata! Beijoss
ResponderExcluirEla tem um pouco de Cassie e Clementine mesmo, Mayrinha! Que bom que você notou *___*
ExcluirMeu Deus, assim vc me assusta. No 2 ano, estagiar e estudar já é um horror. Assim como vc está pensando em TCC eu estou pensando em pautas e procurando outro estágio. Boa sorte pra você e bora que está acabando \o
ResponderExcluirbeijos
Flor, acho que você comentou o post errado, hahaha! Mas é tenso mesmo... Sorry por te assustar =/
ExcluirAdorei esse texto!!
ResponderExcluirMuito lindo,intenso,sensível...
Gostei bastante.
http://infinitaeu.blogspot.com.br/
Obrigada!!!
ExcluirHehehe...
ResponderExcluirAdorei o texto!!!
Realmente...
O tempo passa e as coisas mudam...
Bjs!!!
E como mudam...
ExcluirAh, que lindo! Lindo mesmo.
ResponderExcluirEu não sabia que tu escrevia contos (ou crônicas?) ^.^
Acho que porque eu não procurei por aqui antes =P
Que bom que conseguiu um tempinho para voltar a postar, tava com saudade de ler teu blog hehehe
Bjins =*
Adorei! Tem uma coisa nele que me lembra a Taylor, aquela guria que tem uma maquiagem de panda, sabe? Deve ser a parte das pernas de fantasmas e as tatuagens e a camiseta do Strokes...
ResponderExcluirTo doida?
Beijos, Taryzinha!
Muito bonita a história!
ResponderExcluirNão deixa de ter a ver com o lado romântico e intenso da outra Clarissa né?
Beijossss
Adorei a sua Clarissa, Tary! Não conhecia ela, mas vou procurar os outros uma hora dessas.
ResponderExcluirBeijos :)