Janeiro. Entorpecida, apartamento imundo, cacos de vidro, cheiro de vodka no colchão velho, 5 quilos e 5 discos do Cazuza perdidos.
Samantha ameaçou me internar caso eu não comece a me alimentar feito gente normal. E disse ainda que é uma péssima ideia escrever para você como se ainda existisse. Juro que ela disse com essas palavras: "como se ele ainda existisse". Primeiro de tudo, não quero ser normal; segundo de tudo, você ainda existe.
Sei bem que estaria dando razão a ela, dizendo que eu preciso comer, limpar o apartamento e não pensar tanto em você, mas vou dizer algo que fará com que apoie minha súbita ideia de mandá-la plantar batatas e depois queimar suas almofadas indianas, lá vai: Samantha roubou nossos discos do Cazuza e se recusa a devolver. Ahá! O que me diz disso? De que lado está agora? Nem precisa responder, mexeu com o Poeta, mexeu com a gente.
Ela teve a audácia de argumentar, disse que eu ouvia as músicas e saia quebrando garrafas, chorando como uma descontrolada. Enfim, você sabe como ela exagera.
Droga, você não acredita em mim, acredita? Ok, ok, eu admito que fico um pouco emotiva com "Preciso dizer que te amo", mas nada tão assustador como Samantha vem pintando.
Deus, eu sou um fracasso total, médicos deveriam fazer análises sobre mim. Que tipo de pessoa não consegue mentir para o namorado nem por carta? Uma carta, aliás, que ele jamais lerá? A verdade, é que está tudo completamente terrível, amor. Eu vivia zombando dos filmes americanos, onde mulheres bonitas perdem os amados e ficam fragilizadas, bebendo, chorando e se martirizando, mas agora eu as entendo como ninguém, porque sou tão, ou mais patética que elas.
Não quero fazer da minha vida um Titanic, chorando pelo homem congelado, mas sinto um peso tão grande em cada parte do meu corpo, sinto meus olhos arderem da falta que você me faz, sinto meu coração espalhado pelo mundo como os cacos de vidro espalhados pelo apartamento e, se eu tentar resgatá-lo, cortarei minhas mãos.
Agora estou olhando nossas fotos da cachoeira, estávamos tão felizes naquela manhã. Ora, que bobagem, nós sempre estávamos felizes, sempre. É aí que fico me questionando: "Quando serei feliz assim novamente?" e não vejo resposta.
Esta segunda parte ficou bem mais leve, quis colocar uma dose de humor na narrativa. Dá pra notar que a personagem continua triste, mas que ainda existem esperanças para ela. A próxima parte vai vir bem rapidinho e é a que eu mais gostei de escrever. Aliás, a história toda mexeu muito comigo e espero que tenha causado um pouco de emoção em vocês também.
Love always, Tary
"...mexeu com o Poeta, mexeu com a gente." Adorei!
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Adoro seus textos. São ótimos, parabéns!
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desculpa o ctrl+c mais é que meu blog é novo e eu tenho que divulgar *-* se der de uma passadinha la? se der tbm comente!
ResponderExcluirhahaha adorei a parte do rouba kkkkkkk
ResponderExcluirNão sei se vc escreveu este conto em dias diferentes, mas realmente esta segunda parte me parece mais light. Uma espécie de refresco em comparação com o peso da primeira!
ResponderExcluir=) Vou ali, ler a parte final... meu Deus vc é genial!! Beijos amiga maior!
Nossa Tary,voce me impressionou agora! Lindo,lindo,lindo!
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