terça-feira, 11 de março de 2014

Querida Taryne,

Esse post faz parte da Blogagem Coletiva de Março do Rotaroots.
A ideia original, de escrever uma carta para você 10 anos mais jovem, é do site
Hypeness.

Te imagino lendo essa carta na sala de aula, escondida da professora de matemática, incapaz de esperar o recreio. Afinal, sempre preferimos as palavras aos números, não é? Te conheço muito bem, Tary. Você é que não me conhece ainda. Digo isso porque nós mudamos demais. E, apesar de ainda precisar trabalhar em muitos aspectos, te garanto que mudamos para melhor. Tenho que me segurar para não contar de uma vez tudo o que vai nos acontecer nos dez anos que se seguem. Somos tagarelas e temos essa tendência de apressar as coisas, eu sei. Porém, não quero estragar a alegria que virá quando as surpresas te alcançarem.

Em primeiro lugar, quero te dizer que você é linda. Isso mesmo, linda. Não importa o que os outros digam para te magoar. Pare de tentar agradar essas pessoas, pare de tentar se encaixar. Essa gente não vai ter a menor importância na sua vida daqui um tempo. Tire os seus óculos da gaveta e use-os. Eu sei que você se recusa a acreditar nisso, mas nós ficamos bonitas de óculos. Todos esses complexos que te machucam vão diminuir com o tempo. Alguns deles, inclusive, irão desaparecer por completo. Confiança é uma palavra que apagaram do seu vocabulário, mas ela será reescrita no futuro, eu te prometo.

Algumas amizades da sétima série vão durar e outras, não. Uma delas, talvez a mais forte de todas, vai demorar alguns anos para nascer. Mais tarde, você vai ter que lidar com a decepção e com a saudade. Essa segunda é bem mais complicada, mas será um preço justo a se pagar. E, não, nada do que você está imaginando chega perto da loucura mágica que irá nos acontecer, nem tente adivinhar.
Falando em amizade, vamos conversar sobre a Giovanna? Pois é, o tempo passou e hoje ela tem 17 anos. É minha melhor amiga no mundo inteiro e quase me mata de orgulho. Às vezes é mais madura que eu e guarda meus segredos como ninguém. Aproveite muito essa coisinha bochechuda de sete anos que te abraça e não quer mais soltar. Brinque com ela, tente não brigar tanto. Depois, você vai ter que dividir seu bebê com os - muitos - amigos dela e vai ficar roxa de ciúmes. No entanto, fique tranquila quanto a isso: ela ainda nos chama de “maninha”. Cuidarei para que permaneça desse jeito, pode deixar.

Nossos pais seguem nos apoiando muito, em tudo. Sufoque o espírito aborrecente que toma conta do seu corpinho e não dê muito trabalho a eles. Nunca fomos de encher os pobrezinhos de preocupação, eu sei, mas ninguém merece as chatices da adolescência. Por isso, não se esqueça que colo de mãe é seu lugar e conselho de pai deve ser ouvido. E vice-versa. Tente enxergar o lado deles. Posso te pedir outra coisa? Beije muito a vó Nicinha e o vô Luiz*. As coisas não têm sido fáceis e os dois precisam muito do nosso amor. Nunca perca uma oportunidade de ir até a casa deles. Converse com o vô sobre a novela, faça-o rir, cuide dele. Diga que o ama muitas e muitas vezes. Peça para a vó fazer todos aqueles quitutes maravilhosos e continue fuçando na estante dela. Às vezes ela fica brava, mas morre de orgulho da gente.

Quando se trata de carreira, acho que seu sonho é ser atriz. Com o tempo, essa vontade vai dar lugar a outras. Em 2014, estaremos formadas e exercendo a profissão que escolhemos. A caminhada não será fácil e vão existir momentos em que nossa vontade de fugir ameaçará tomar conta de nós. Antes disso, você vai descobrir que é forte, Tary. Eu sei que aos 12 anos você não se sente assim e esta é outra promessa que eu te faço: você terá coragem para suportar. Sei que você está curiosa a respeito de um certo setor das nossas vidas. Pois bem: estamos aprendendo a guardar as roupas no armário, colocar a mala debaixo da cama e, simplesmente, ficar. Acho que estamos perto de conseguir. (Esta frase não deve ter feito o menor sentido agora, mas um dia você vai entender cada uma dessas palavras).

Meu Deus, olha o tanto que eu escrevi. Sua cabeça deve estar cheia de perguntas e eu mal posso esperar para que as respostas cheguem. Estou empolgada com tudo o que ainda vamos viver, juntas, de mãos dadas. Mesmo que nós duas sejamos tão diferentes, eu ainda tenho muito de você e tenho certeza que os seus sonhos ajudaram a me construir. Me emociona pensar que você teria orgulho de quem me tornei, dos medos que joguei no lixo, das coisas que você desejou e eu consegui realizar. Não tema o que está por vir, Tary, venha rodopiando pra cá. Obrigada por tudo.

Love, Tary

* Meu avô faleceu em julho de 2004. A parte mais difícil de escrever esse texto foi me lembrar que, no dia 11 de março de 2004, ele ainda estava comigo. Se alguém ficou se perguntando, minha avó continua conosco.

domingo, 2 de março de 2014

Oscar 2014: apostas e torcida

Hoje é dia de festa e não, eu não estou falando do Carnaval. Vamos conversar sobre vestidos maravilhosos e outros que poderiam ser exterminados da terra (deveria ser proibido ganhar prêmio usando uma roupa horrorosa). Vamos cobiçar os astros que nunca teremos em nossas vidas, sofrer com nossas torcidas vãs, chorar com o discurso mais emocionante da noite e levantar da poltrona para aplaudir nossos favoritos. Claro que estou falando do Oscar, o prêmio máximo do cinema, que raramente se trata de merecimento, mas é sempre divertido de acompanhar. Este ano consegui assistir seis dos nove indicados a Melhor Filme e só não risquei a lista toda porque, além de ter precisado viajar, morri de preguiça de Capitão Philips, Nebraska e Gravidade (dizem que é excelente, mas imersão espacial, definitivamente, não é a minha). Só não fico chateada porque, tirando o último, desconfio que os outros saiam de mãos abanando da premiação.
 
Antes das minhas apostas e torcidas, quero discorrer um pouco sobre o superestimado do ano. Mais uma vez as festinhas do senhor David O. Russel o fizeram emplacar um dos seus filmes medianos e com ritmo equivocado. E ainda não posso acreditar que este homem teve indicados em todas as categorias de atuação em dois anos seguidos, quando isso não acontecia faz um tempão. 'Trapaça' é chato ao extremo e, apesar de raros bons momentos, não tem nada de original, ou mega empolgante. Serviu para mudar um pouco da minha opinião sobre a Jennifer Lawrence, que rouba a cena e enfrenta Amy Adams com segurança. Apenas espero que essa menina pare de interpretar gente chata/maluca e mostre um outro lado. Confesso que: meu sonho é ver esse filme perdendo tudo. Num ano em que estou torcendo para os azarões, seria motivo para comemorar.
 
Melhor ator
 
Acho que vai dar Matthew McConaughey‎. Não sei se necessariamente por seu papel em 'Clube de Compras Dallas', ou por todas as suas atuações sensacionais nos últimos tempos. Ele está ótimo como o cowboy que se descobre soropositivo e cria todo um esquema ilegal de venda de medicamentos. Seria merecido e me deixaria orgulhosa porque adoro o Matthew desde que assisti Tempo de Matar, um dos melhores filmes de tribunal da minha vida.
 
Entretanto, meu coração e minha torcida são do Leonardo DiCaprio. Em 'O Lobo de Wall Street', Leo estica todos os seus limites como Jordan Belfort, um canalha sem precedentes que, com todo o seu charme escorregadio, se torna carismático aos nossos olhos.
 
Melhor atriz
 
Quase certeza que ninguém tira esse prêmio da Cate Blanchett. A mulher está possuída e o destaque em 'Blue Jasmine' é todo dela, por mais que eu ame a Sally Hawkins. Outro Oscar que será merecido, na minha opinião. Mas que também não é minha torcida.
 
Todo o sangue nos olhos de Cate não supera o trabalho contido, verossímil e cativante da maravilhosa Judi Dench, em 'Philomena'. Quantas vezes a estatueta não caiu nas mãos de atrizes que interpretaram personagens histriônicas? Seria maravilhoso ver isso mudar este ano, mas considero quase impossível.
 
Melhor ator coadjuvante
 
Ao que tudo indica, o esforço físico de Jared Leto vai lhe render o Oscar. Entrega é uma coisa linda de ver e sempre conquista minha admiração. Sem ele, 'Dallas' não seria completo e, por isso, não vou de jeito algum me descabelar de revolta com sua vitória. Porém, não dá pra negar que, quando se trata de interpretação, na raiz dessa palavra, Jonah Hill (O Lobo de Wall Street) e Michael Fassbender (12 anos de escravidão) o superam. Os dois têm muito mais tempo em tela e seus papeis possibilitam momentos 'sambantes' mais frequentes. Além do fator 'memorável'. Sempre lembro das cenas de Jonah Hill (meu favorito disparado), o que não acontece com Leto.

Melhor atriz coadjuvante
 
Mesmo aparecendo pouco, Lupita Nyong'o deixou sua marca e deve levar. Pensando sobre o filme, a sequência em que sua personagem é chicoteada insiste em aparecer na minha mente. Espero que ela faça muitos outros filmes depois de vencer, a exemplo do que aconteceu com Marion Cotillard.
 
A maior merecedora do ano? Julia Roberts. Contracenar com Meryl Streep sem ficar apagada não é para qualquer uma e ela fez isso com maestria, peitando a colega em todos os momentos que pôde. Gostei  demais de 'Álbum de Família', que parece um conto da Carson McCullers filmado e dá todo o espaço para que Julia brilhe. Um absurdo JLaw ter tirado o Globo de Ouro dela.
 
Melhor roteiro original
 
Talvez seja uma das poucas categorias que conta com a minha esperança. Vou ficar muito brava se 'Ela' não vencer. É o filme que mais faz valer a palavra original e cada diálogo faz a alma doer. Como alguém disse no Filmow, quero injetar a obra do Spike Jonze na minha veia. Ah, aproveito o espaço para dizer que acho ABSURDO o Joaquin Phoenix não ter sido indicado. Ele não dá a minima para o Oscar e faz questão de dizer isso, mas é inadmissível que Academia não lembre um trabalho assim.
 
Melhor roteiro adaptado

Comemorei feito gol do Brasil em final de Copa do Mundo a indicação de 'Antes da Meia-Noite' e, se ganhar, vou chorar os olhos para fora. A única vitória que me fará feliz da mesma forma: 'O Lobo de Wall Street', que deveria fazer a rapa e levar tudo o que puder levar.
 
Melhor direção
 
Vai dar Alfonso Cuarón e, mesmo não tendo visto Gravidade, tenho certeza que o trabalho de direção é exepcional. Contudo, torço para o Scorsese até o fim. Que ele renove seu apetite na realização de filmes que explodam minha cabecinha e nunca deixe de trabalhar com o DiCaprio, amém.
 
Melhor filme
 
O longa com mais cara de Oscar é '12 anos de escravidão' e o prêmio deve ser dele. Mas isso não mudará jamais o fato de que 'O Lobo de Wall Street' é o melhor filme da lista (pelo menos dos que assisti, hihi). Fantástico em todos os quesitos. Roteiro brilhante, direção foda, interpretações inesquecíveis, troféu 'são três horas, mas eu veria cinco numa boa'. Sei que a Academia vem mudando, 'Guerra ao Terror' e 'Argo' que o digam, mas meu favorito do ano tem muita gente contra ele. Mesmo assim, a improvável vitória seria meu momento favorito do Oscar, definitivamente.

Love, Tary