sexta-feira, 24 de janeiro de 2014

True love will find you in the end

Às vezes o mundo se mostra tão cruel que, mesmo sem querer, a gente se defende do mesmo jeito. Não tenho achado mais a melancolia tão bonita. Ela grudou na minha carne e parece não querer sair de jeito nenhum. Sabe aquela tristezinha imunda que vem sorrateira e, do nada, toma conta? Sempre acompanhada daqueles vislumbres de futuro que ameaçam liquidar nossa esperança.

Por isso, agradeço todos os dias pela arte. Sem ela, talvez eu me sentisse ainda mais sozinha. É um colo para minha cabeça cansada, um beijo demorado na bochecha, um sopro de vida. Agradeço pelos personagens de papel e tinta que criam vida e me encontram, sem avisar, em qualquer esquina. Agradeço pelos que acompanho durante anos, duvidando, vez ou outra, do fato de serem fictícios. Agradeço por cada frame daqueles filmes que não só dizem muito, mas remexem dentro de mim e, mesmo na dor, salvam meu dia.

medianeras

Hoje preciso agradecer a um deles, em especial: Medianeras. Filme argentino que não sai da minha cabeça desde o domingo passado. Eu havia acabado de acordar e, com preguiça de levantar e encarar a rotina, resolvi assistir. Fui recepcionada por um casal protagonista que mora na bela Buenos Aires, lado a lado, procurando a mesma coisa, sofrendo das mesmas angústias, cada um no seu canto, sem nunca terem se percebido na multidão. São a resposta para a pergunta que não dizem em voz alta e nós sabemos disso, mas eles não.

E não termina aí. Medianeras aborda ainda o modo como a internet nos aproximou e nos afastou ao mesmo tempo,  relaciona a arquitetura da cidade com as frágeis relações humanas, provoca aquela pontada de identificação, através de metáforas que convergem na mais brilhante delas, no final. Carregado da pós-modernidade na qual nasci e que, sem ter culpa, mudou minha vida. Sem contar a música que dá título a esse post e me faz chorar enquanto o escrevo. Mas posso revelar uma coisa? A última cena me devolveu a vontade de acreditar. Ela, mais uma vez: a Esperança. Tudo o que eu precisava e sempre volto a precisar. Você fez de novo, arte. Meus olhos marejados agradecem e esperam pela próxima vez.

“Cause true love is searching too, but how can it recognize you, unless you step out into the light? Don't be sad, I know you will, but don't give up until true love finds you in the end.”

(Daniel Johnston)

 

Love, Tary

P.S: Ouçam o cover maravilhoso – com gaita – da música do título e do trecho acima. É sério, agora: clique aqui.

P.S2: E pelo amor de Deus, assistam esse filme.

sábado, 11 de janeiro de 2014

Para anotar a dor e a delícia dos 365 dias

Finalmente gravei o vídeo mostrando a vocês a agenda que usarei (e Deus ajude que eu use mesmo) este ano, seguindo a proposta da Analu. Comprar agenda pra mim é tradição. Até tentei acabar com isso em 2014, mas assim que minha irmã me ofereceu uma de presente de Natal, não pude resistir. Guardo as minhas desde 2004! Dez anos, minha gente! Dez anos de vergonha para consultar, já que reler agendas me deixa vermelha de tanto rir. Fiz isso com a minha irmã recentemente e as risadas preencheram meu quarto. O problema é que nenhuma delas (a não ser as que eu usava só para citações e colagens dos ‘gatos’ da vez, segundo a Capricho, claro) têm coisas escritas até dezembro. Mais uma das minhas resoluções de ano-novo jamais cumpridas. Em 2013, o fiasco foi ainda maior, acho que foi a agendinha que menos usei na vida. E ela era tão linda, vocês lembram? Bom, espero não terminar 2014 com a mesma sensação. Vejam o vídeo e me obriguem a usar essa lindeza nos comentários. Ah, não mostrei, mas ela fica ainda mais bonita com a página toda escrita!

Love, Tary

sábado, 4 de janeiro de 2014

Retrospectiva literária 2013

O ano que passou foi muito produtivo em matéria de leituras (pelo menos nisso). Participei de dois desafios com 12 livros cada e consegui ler cinco livros de um, seis do outro. Se você me conhece um pouquinho sabe que isso é um grande avanço: odeio planejar leituras. Ao todo, foram 54 livros (para ver a lista completa, clique aqui). Os melhores vocês poderão conferir no vídeo que gravei para o meu canal no YouTube, mas resolvi também ressuscitar o meme que criei no fim de 2010, pois: a) alguns livrinhos precisam ser citados, b) sinto saudade de escrever sobre livros, e c) quero dar uma de Deyse Batista e esculachar certos títulos manés. Agora chega de papo e vamos iniciar os trabalhos.

O melhor casal literário

Lou & Will, de Como eu era antes de você partiram o meu coração em milhares de pedacinhos que até agora devem estar perdidos no meio das páginas daquele livro. Morri de medo do relacionamento dos dois ficar forçado e melodramático, mas não aconteceu. O envolvimento se deu de uma forma tão gradual e delicada que não foi difícil me apaixonar. Se separados eles já eram personagens incríveis, imagine quando interagiam? Os dois me fizeram rir, chorar (muito) e refletir sobre coisas que nem passavam pela minha cabeça. Eles me ensinaram muito e sempre serei grata por isso.

Menção muito honrosa: Lina & Andrius, de A Vida em tons de Cinza.

Virei a noite lendo

O Oceano no Fim do Caminho, de Neil Gaiman. Finalmente pude constatar o que já suspeitava: Neil Gaiman é um brilhante contador de histórias. Sua narrativa deliciosa me pegou de jeito e terminei de ler o livro em um dia, desesperada por mais. Não largo mais esse homem por nada nesse mundo.

Soco no estômago

Vida Roubada, de Jaycee Dugard. Foi exatamente essa a sensação que tive ao ser exposta às memórias da menina sequestrada que passou 18 anos nas mãos de seu algoz, um pedófilo condenado. Paralisada pelo medo, se sentindo culpada, morrendo de saudade da mãe. Se alegrando com a chegada das filhas que teve com o bandido, pois assim não estaria mais sozinha. Me indignei com a negligência das autoridades americanas, que iam até a casa para vigiar o homem, mas parecem ter pouco se importado em dar uma olhada no quintal, onde uma garotinha encarcerada rezava por ajuda. E até agora, meses depois da leitura, ainda não entendo como a mulher desse sequestrador – sim, ele era casado – ajudou a raptar Jaycee e se omitiu diante dos abusos cometidos pelo marido. Socos de todos os lados, medo da maldade existente no mundo.

A Mulher Desiludida, de Simone de Beauvoir. Os dois últimos contos até hoje não pararam de me estapear. Murielle, desolada pelo suicídio da filha, deprimida com a solidão e repetindo mil vezes que está farta farta farta farta. Monique, traída pelo marido, iludida sobre a possibilidade dele se arrepender e se sentindo cada vez mais esquecida. A escrita da autora é daquelas que você jamais conseguirá esquecer e passará a vida se martirizando por jamais chegar aos pés. Absolutamente necessário.

Chorei de soluçar

As maiores choradeiras do ano foram: Como eu era antes de você, A Vida em Tons de Cinza e Extraordinário. O primeiro por motivos de: melhor casal literário do ano sofrendo. O segundo: melhor elenco do ano sofrendo do início ao fim. O terceiro: criança mais incrível do ano sofrendo (também chorei quando ela para de sofrer, mas enfim).

A maior decepção do ano

O que aconteceu com o adeus e A Caminho do Verão, da Sarah Dessen.  Esperava algo de absurdamente sensacional desses dois livros (que foram bem caros, pra piorar) e achei ambos medianos. A autora também segue uma fórmula de: personagens desajustadas, com nomes diferentes e problemas familiares (pelo menos a julgar por esses livros), que considerei bem pouco criativa. Fora que a mulher é prolixa pra caramba! Nenhum deles precisava de tantas páginas. No entanto, por algum motivo, ainda não desisti. Dizem que Just Listen é o melhor livro da Sarah e ainda tenho vontade de conferir.

O mais chato

Dez (quase) amores, de Cláudia Tajes. Ai, nem sinto vontade de falar sobre esse livro. O PIOR de 2013. Esperava um chick-lit engraçado e encontrei piadas ruins, acompanhadas de uma protagonista insuportável, além de machista. Nunca vou me esquecer dela falando que o namorado (papai-noel de shopping) havia incorporado a personalidade do bom velhinho e “mulher gosta mesmo é de um bom canalha”. Podia ter passado sem essa.

Quase morri de tanto rir

Dona Sophie Kinsella me conquistou com sua Poppy, protagonista hilária de Fiquei com seu número. A garota que perde a aliança de noivado, o celular e a cabeça. Ri alto com as peripécias dela, amei as notas de rodapé presentes no livro e voltei a ter fé nos chick-lits! Também não posso deixar de citar O Fantasma de Canterville, de Oscar Wilde, onde a família que deveria ser assombrada zoa o fantasma até dizer chega; Ora Bolas, coletânea de historinhas sobre o Mario Quintana; e O Teorema Katherine, que marcou minha reconciliação com John Green.

Aventura, fantasia ou infanto-juvenil

Peter Pan fez com que eu voltasse à infância. De repente, eu era a Taryne de 5 anos de idade, devorando uma história sobre piratas, fadas e garotos que não queriam crescer. Jamais esquecerei as intromissões do narrador, a maravilhosa cachorra-babá e o meu medo do Capitão Gancho.

Autor revelação

Amei conhecer Simone, Neil e Sophie em 2013, mas nada poderia me preparar para esse turbilhão chamado Carson McCullers, com seu estilo gótico sulista, repleto de ambientações rústicas e personagens endurecidos por dentro, que flertam com a loucura, com a escuridão (ou as abraçam logo de uma vez). E no último conto do sensacional A Balada do Café Triste, a mulher que dá voz aos excluídos surpreende ao mostrar que também sabe falar de amor. Quero ler tudo o que ela já escreveu.

Bate bola de personagens

Personagem masculino apaixonante: Andrius, de A Vida em Tons de Cinza. Que outro garoto nesse mundo roubaria um livro por você? Te acharia linda até coberta de lama depois de ter trabalhado por horas? Só mesmo Andrius.

Personagem feminina admirável: Kassandra, de O Incêndio de Troia, de Marion Zimmer Bradley. Impetuosa, feminista, guerreira. Do tipo que não faz o que esperam dela ou deixa de ser quem é pelos outros. Queria ter um pouco de sua coragem.

Personagem mais chato: A protagonista de Dez (quase) amores, claro. Nem lembro o nome.

Personagem mais legal: Auggie, de Extraordinário e Senhor Bennet, de Orgulho & Preconceito. Sarcasmo é uma arte e eles a dominam. Porém, não posso deixar de citar o meu herói hoje e para sempre, Atticus Finch, de O Sol é Para Todos.

Personagem mais perturbador: Todos os personagens completamente desestruturados emocionalmente de Reflexos num olho dourado, de Carson McCullers. O anão, de A Balada do Café Triste, da mesma autora. E, óbvio, o grupo de pirralhos alucinados de Nada, da Jane Teller. Parabéns a todos vocês por explodirem minha cabeça este ano, seus malucos.

Personagem que mais me identifiquei: Lóri, de Uma aprendizagem ou o Livro dos Prazeres, de Clarice Lispector. Os motivos são muitos para enumerar aqui. Apenas repito para mim mesma: se eu fosse um livro, seria esse.

O melhor livro de 2013

A Vida em Tons de Cinza, de Ruta Sepetys, mostra para o mundo, através de uma história de ficção, muito do que aconteceu com pessoas de carne e osso, durante o poderio de Stalin. Os povos bálticos (Letônia, Estônia e Lituânia), deportados pela polícia secreta soviética para campos de trabalhos forçados na Sibéria. Pessoas que, mesmo depois de voltarem para as suas casas, foram obrigadas a não abrir suas bocas sobre o horror que viveram, sob risco de prisão ou nova deportação. No livro, conhecemos Lina Vilkas, de 15 anos, desenhista talentosa, que é levada junto com o irmão e mãe para um dos campos. O pai é separado da família e Lina espera que, de alguma forma, seus desenhos cheguem até ele.  Me estendi na sinopse porque ainda não senti uma empolgação muito grande em volta desse livro e acho isso injusto.  Todos precisam aprender um pouco sobre gratidão, esperança e fé, sentimentos que transbordam em cada página desse livro sem torná-lo piegas nem por um segundo.E não faz mal se encantar com personagens lindos, brilhantemente construídos, cheios de personalidade. Sofri por eles como se fossem da minha família e abracei esse livro por muito, muito tempo depois da leitura. Apenas leiam.

Love, Tary

P.S: Convido todos a responderem, mas por favor, não se esqueçam dos créditos!

quarta-feira, 1 de janeiro de 2014

Bem vindo, 2014

2014 finalmente nasceu. Ainda bem, considerando que - perdoem o trocadilho - 2013 foi um verdadeiro parto. E pelo que sei, não fui a única a levantar as mãos para o céu e agradecer pelo seu fim quando o relógio marcou meia-noite. Não foi de todo ruim, admito. Nunca havia lido tanto, viajado tanto e refletido tanto. Mas todos os momentos bons eram cobertos por baldes de água fria dolorosos e eu, sempre tão apaixonada pelas coisas, adquiri um ar de desânimo, beirando o pessimismo. 

Me perdi um pouco de mim mesma e meu maior desejo para este novo ano é me encontrar de novo. Amo ter todas essas páginas em branco para escrever e deve ser por isso que compro agendas todos os anos, mesmo que seja para abandoná-las na metade deles. Eu amo a esperança que acorda dentro de mim na virada do ano. Amo saber que posso encerrar um ciclo difícil e começar de novo. 

Sei que a metade de mim perdida em 2013 está escondida em algum cantinho escuro só esperando o momento certo para aparecer. E eu rezo para que isso aconteça em 2014. Alguma coisa me diz que as poucas expectativas que estou colocando neste ano podem fazer com que eu me surpreenda. E mais do que isso, preciso ser surpreendida por mim mesma.

Quero conversar muito com quem vejo diante do espelho, resolver algumas pendências entre nós e torná-la uma pessoa melhor. Quero fazer coisas que nunca fiz antes. Quero criar momentos propícios para a felicidade aparecer. Quero parar de planejar e começar a produzir. Quero sair do meu quarto e viver. E quero voltar aqui para contar tudo o que aprendi. Por isso, seja bem vindo, 2014! Apenas me trate bem, pois esperei muito sua chegada.

Love, Tary

P.S: Hoje é aniversário do Doces Rodopios! Quatro anos de blog, vejam vocês. Posso desaparecer, mas não desisti! Que venham outros anos mais!#docesrodopiosday