Desde pequena eu sempre fui viciada em novelas. O momento exato em que tudo começou, não sei citar ao certo, mas deve ter ficado mais forte com Chiquititas, Luz Clarita e Carinha de Anjo, que eu acompanhava religiosamente e comentava todos os dias com os amigos da escola. Aí veio aquela que deve ser a novela mais reprisada do mundo e também a mais vista nessa minha vida: A Usurpadora. Novelão dos bons, com todas as características típicas de uma trama mexicana, mas com reviravoltas e estilo próprio. Todas as meninas brincavam de Paola/ Paulina e sonhavam com um Carlos Daniel pra chamar de seu. No que me diz respeito, sempre queria ser La Bracho nas brincadeiras com a minha irmã, o que se você parar pra pensar, já manifesta meu fraco por vilãs.
Outra que fez parte da minha infância foi Terra Nostra. Eu tinha nove anos e, de repente, o italiano tinha virado praticamente a segunda língua dos brasileiros. Donas de casa choravam sangue torcendo pra que Giuliana ficasse com Matteo. Mas os meus favoritos nem eram os protagonistas, mas os personagens de Raul Cortez e Maria Fernanda Cândido, que viviam uma história de amor maravilhosa, enfrentando o preconceito da galera chata da novela.
Depois veio O Clone, uma das novelas mais carismáticas de todas, que apresentava o Marrocos como uma espécie de “novo mundo” pra gente. Desnecessário dizer que já brinquei muito de “Jade”, pegava todos os lençóis da casa pra fazer véus e ficava cantando “Habib, Habib” o dia inteiro. Fora que tinha personagens inesquecíveis, como a viciada em drogas Mel, o Albieri e a Dona Jura, que vendia pastéis como se não houvesse amanhã até pro Pelé, eu acho. Além dos inúmeros bordões que a novela lançou: “né brinquedo, não”, “fulano vai arder no mármore do inferno” e “aquela lá fica fazendo exposição da figura na Medina”, só pra citar alguns. Novela épica e ponto final.
Tirando essas duas, as demais passaram a me conquistar por causa das personagens malvadas com sangue no zóio. Em Laços de Família, a Íris era a minha personagem favorita e eu abraçava a televisão a cada trollada que ela dava na insuportável da Camila, também conhecida como Judas, coitada. Essa foi a melhor história já feita pelo Manoel Carlos, com certeza. Só que aí um tempinho passou e todas as vilãs anteriores perderam um bocadinho de seu brilho por causa dela: Laura Prudente da Costa, a Cachorra. Cláudia Abreu divando na cara da sociedade, xingando a insuportável da Maria Clara Diniz vivida pela Malu Mader e carregando o Márcio Garcia, o Michê, pra cima e pra baixo. Apesar da Nazaré Tedesco ser a mais cruel de todas, além de Senhora do Destino também ter marcado a minha vida, Laurinha sempre será a vilã por quem eu mais torci. E é por isso eu odeio o final que o Gilberto Braga escreveu pra ela. Cachorra merecia mais.
Porém, mais do que as mulheres que dão medo na gente, a outra coisa que me atrai em novelas é muito menos complexa. Ah, a doce atmosfera rural. Personagens que andam a cavalo, comem bolo de fubá e falam coisas como “vamo mudá o rumo dessa prosa”, “diacho” e chamam o padre – sempre tem um padre, claro – de “seu vigário”. A minha novela favorita de todos os tempos reúne todos esses elementos: Cabocla, com alguns dos casais mais apaixonantes da televisão. Com essa eu chorei, sorri, gargalhei e até aprendi. Nesse mesmo estilo, O Cravo e a Rosa, Chocolate com Pimenta e Paraíso também conquistaram meu coraçãozinho noveleiro. Paraíso, aliás, foi a última novela que acompanhei com afinco. Morrendo de amores pelo Eriberto Leão e pela Nathalia Dill. Zeca Diabo e Santinha pareciam ser os últimos personagens pelos quais eu ia me apaixonar de verdade. A alma noveleira parecia ter adormecido para sempre – sentiram o drama?
Só que 2012 chegou, né? E eu me vi novamente viciada e louca por duas tramas da TV. Cheias de Charme, ou “Empreguetes” e Avenida Brasil, conhecida no Brasil inteiro como “Oi oi oi” por causa da famigerada música de abertura. A das sete reúne todas as coisas mais erradas já inventadas pela humanidade, malandragem, eletro forró, uma vilã maravilhosa, cheia dos bordões e muito da engraçada – Cláudia Abreu, te amo –, um cantor caricato inspirado nos artistas da minha terra – Fabian é campo-grandense, beijos – e três marias-empregadas que viram estrelas. É impossível não torcer por Cida, Rosário e Penha. E também é impossível não se pegar cantando animadamente as músicas da novela por aí.
Já a das oito é praticamente um milagre. Faz tempo que eu não vejo uma novela desse horário deixar as pessoas completamente malucas, assistindo um capítulo decisivo como se fosse final de Copa do Mundo. Essa aí conseguiu. Tudo por ter Carminha, que se faz de beata defensora dos pobres e oprimidos, mas joga crianças no lixão e enterra cozinheiras vivas! E por causa da Nina, claro, uma mocinha que me faz ter pesadelos com aquela cara de demente, sempre à espreita, planejando sua vingança com total sangue frio. Além disso, os coadjuvantes são os melhores possíveis. Tufão e Adauto, por exemplo, sempre me fazem dar risada e fazer coraçãozinho pra televisão por causa de suas genialidades. Suelen, Roni, Iran e Débora também são excelentes. E com tanta coisa boa, a gente até esquece das chorumelas do Xorxinho e do núcleo flopado do Cadinho, né?
Se você foi deixado pelo caminho por causa das novelas ruins, caro noveleiro, pode voltar. Finalmente a maré está boa para nós de novo.
Love, Tary
Menções honrosas: Paraíso Tropical, Coração de Estudante, O Rei do Gado, Pé na Jaca, Por Amor, Canavial de Paixões, Mulheres Apaixonadas, Maria do Bairro <3