segunda-feira, 22 de março de 2010

Nostálgica, eu?


Quando eu era pequena, ia todas as manhãs pra casa da minha avó e, como não podia brincar na rua, mergulhava nos meus programas de televisão favoritos até a hora de ir à escola. Me dividia entre o SBT, a Cultura e a Globo (que era a mais fraquinha na programação infantil) e passava ótimos momentos com "Ursinhos Carinhosos", "O Fantástico Mundo de Bobby", "Mundo da Lua", "Castelo Rá-Tim-Bum", "Chaves", "Chapolin", "Punky", "Blossom", "Digimon" e "Sakura Card Captors". Minha tia, que na época tinha 15 anos (eu tinha uns 6, 7), cuidava de mim e assistia quase todas as atrações comigo. Apesar da diferença de idade, tínhamos muito em comum e sempre comentávamos os episódios.

Todo mundo se lembra de "Punky, a levada da breca", mas é difícil alguém se lembrar de "Blossom", um sitcom muito doce e engraçado sobre as desventuras de uma adolescente e que começou a ser exibido pelo SBT em 1997, durando quatro anos. Na minha memória, pequenos flashs da personagem título, muito inteligente e nada bonita; de Joey, o irmão muito bonito e nada inteligente; de Tony, o irmão ex-viciado e hilário; de Nick, o pai bacana e ciumento, de Vinnie Bonitardi, o namorado gatinho e de Six, sua melhor amiga no mundo inteiro e uma tagarela crônica. Eu simplesmente amava a série, adorava os conflitos, as piadas e esperava ansiosamente que a garota estranha começasse a dançar na abertura, pois isso significava que eu daria boas risadas.

Durante muito tempo procurei os episódios pra download, mas parecia praticamente impossível encontrar, já tinha desistido quando achei esse link que continha praticamente todos os episódios da série pra assistir online. Pronto, virei criança na hora! Me vi sentada com a tia Dani na sala da casa de vovó, comendo leite ninho com achocolatado e dizendo o quanto Vinnie era lindo e Joey, um adorável idiota.

Não sei bem o motivo, mas adoro conversar ou mesmo reviver  minha infância. Escrevi aqui uma vez que, assim como a Cassie, de Skins, não acho que tenha crescido realmente, ainda tenho muito da criança que desenhava as pessoas que amava, lia histórias sobre "Meninas Exemplares" na varanda de casa e sentava todas as manhãs para assistir Blossom na TV.

Love, Tary.

sábado, 13 de março de 2010

Pedaços do Coração - Parte Final: Aceitação

Hoje acordei e fitei o céu. Não como todo mundo faz, apenas vendo, sem realmente perceber o quanto aquilo é magnífico. Olhei com paixão, com entusiasmo; olhei o céu como a gente se olhava.

Reparei tanto na perfeição arrebatadora daquele azul, que até minhas pupilas devem ter sido tingidas de celeste, tentei imitar o desenho das nuvens com meus dedos brincando no ar e quase senti uma textura de algodão vindo delas.

Não, não presenciei esse espetáculo através da grande janela de nosso apartamento imundo - aliás, limpei o apartamento na quarta. Esta manhã eu me levantei, tomei um banho demorado, coloquei aquele vestido estampado com notas musicais que não usava desde o dia dos namorados, preparei um sanduíche de atum e uma limonada bem doce, comi tudo, bem devagar, mas comi; e fui para o parque levando uma cesta de pequenique, uma bolsa de praia, um livro da Clarice Lispector e Chaplin. Não o gênio do cinema mudo, mas meu novo cachorro. É, adotei um cachorro.

Estendi uma toalha com as pontas gastas na grama, acomodei a cesta, a bolsa e o livro de Clarice, afaguei Chaplin demoradamente e, quando meus olhos alcançaram o céu, foram imediatamente sugados pela imensidão azul, não tiveram a menor chance. A admiração etérea foi só o princípio, logo eu estava observando as árvores, as crianças; travessas e com a vida em seus passos, as notas do meu vestido, as páginas do livro, as pontas gastas completamente embaraçosas da toalha, o olhar bondoso e maroto de Chaplin.

Agarrei minha bolsa e procurei furiosamente um espelho, depois de muito procurar, finalmente achei um que pegara emprestado de Samantha e jamais devolvera. O aproximei de meu rosto e, de repente, lá estava eu, no meio de um parque, fitando meus próprios olhos num espelho roubado. Observei minhas pupilas negras e o castanho bonito que compunha minha íris, parecia que podia ver minha alma.

Foi então que eu vi. Meu Deus, estavam aí o tempo todo! Os pedaços, Deus, os pedaços do meu coração! Como eu não pensei em procurá-los nos meus olhos? Como? Tudo o que eu vejo, tudo o que posso contemplar, como não notei antes?

Lágrimas grossas, quentes, repletas de alívio e de fé, caíram sobre o espelho e as respostas abruptamente estavam lá, vivas como os passos das crianças. As partes de mim não eram mais cacos de vidro que me cortariam as mãos se as tocasse, elas se juntavam; se juntavam como peças de um quebra-cabeça mágico. As partes de mim podiam ser tocadas agora, eram palpáveis novamente, eram reais e não doíam como antes.

Ignorei os olhares atônitos para aquela mulher de cabelo roxo, vestido musical, toalha gasta e que chorava sorrindo. Acalmei Chaplin, que estava assustado com o súbito ataque da nova dona, joguei o espelho roubado pra dentro da bolsa, enxuguei as lágrimas, recolhi minhas coisas, me pus de pé e fui para casa.

Agora estou aqui, sentada na cama - sim, tenho uma cama agora -, escrevendo neste caderno vermelho pela última vez. Não que eu ache que escrever tenha me feito mal, foram essas palavras que me permitiram desabafar e me sentir um pouco mais junto de você. Era quase como te abraçar em substantivos, te beijar em adjetivos e dormir contigo em monossílabos.

Mas agora sei que posso seguir por mim mesma: retomo o trabalho na semana que vem, voltei a pintar, estou aprendendo a cozinhar - acho que ninguém fingirá que gosta da minha comida tão bem quanto você - e Samantha me julgou tão melhor que até devolveu os discos do Cazuza, acredita?

Nunca pude sequer imaginar minha vida sem você, Leo. Mas não é porque foi embora que preciso imaginar isso, porque minha vida sempre estará repleta, transbordada, inundada de você. Superar não é esquecer, é prosseguir, enxugar as lágrimas, encontrar os pedaços perdidos e viver com os olhos encantados pelas coisas belas que eles encontram pelo caminho.

Com amor, Clarissa.

P.S: Meus lábios ainda adormecem quando penso em você...


*

Só revelei os nomes no final porque queria que vocês imaginassem os dois como um casal conhecido, sabe? Aquele casal que, mesmo com pouca grana, se ama muito, têm muitas coisas em comum e que nem dá pra imaginar separados. Clarissa não quis encontrar outro grande amor e esquecer Leo completamente, ela só fez um pouquinho de esforço e no fim, as respostas estavam lá. Esta história foi uma das coisas que mais gostei de escrever porque demonstra que podemos sofrer, podemos chorar, podemos não nos conformar num primeiro momento; mas existe uma coisa linda que pode nos reerguer. Uma coisa chamada...esperança.

Love, Tary.

sexta-feira, 12 de março de 2010

Pedaços do Coração - Parte II: Negação

Janeiro. Entorpecida, apartamento imundo, cacos de vidro, cheiro de vodka no colchão velho, 5 quilos e 5 discos do Cazuza perdidos.

Samantha ameaçou me internar caso eu não comece a me alimentar feito gente normal. E disse ainda que é uma péssima ideia escrever para você como se ainda existisse. Juro que ela disse com essas palavras: "como se ele ainda existisse".  Primeiro de tudo, não quero ser normal; segundo de tudo, você ainda existe.

Sei bem que estaria dando razão a ela, dizendo que eu preciso comer, limpar o apartamento e não pensar tanto em você, mas vou dizer algo que fará com que apoie minha súbita ideia de mandá-la plantar batatas e depois queimar suas almofadas indianas, lá vai: Samantha roubou nossos discos do Cazuza e se recusa a devolver.  Ahá! O que me diz disso? De que lado está agora? Nem precisa responder, mexeu com o Poeta, mexeu com a gente.

Ela teve a audácia de argumentar, disse que eu ouvia as músicas e saia quebrando garrafas, chorando como uma descontrolada. Enfim, você sabe como ela exagera.
Droga, você não acredita em mim, acredita? Ok, ok, eu admito que fico um pouco emotiva com "Preciso dizer que te amo", mas nada tão assustador como Samantha vem pintando.

Deus, eu sou um fracasso total, médicos deveriam fazer análises sobre mim. Que tipo de pessoa não consegue mentir para o namorado nem por carta? Uma carta, aliás, que ele jamais lerá? A verdade, é que está tudo completamente terrível, amor. Eu vivia zombando dos filmes americanos, onde mulheres bonitas perdem os amados e ficam fragilizadas, bebendo, chorando e se martirizando, mas agora eu as entendo como ninguém, porque sou tão, ou mais patética que elas.

Não quero fazer da minha vida um Titanic, chorando pelo homem congelado, mas sinto um peso tão grande em cada parte do meu corpo, sinto meus olhos arderem da falta que você me faz, sinto meu coração espalhado pelo mundo como os cacos de vidro espalhados pelo apartamento e, se eu tentar resgatá-lo, cortarei minhas mãos.

Agora estou olhando nossas fotos da cachoeira, estávamos tão felizes naquela manhã. Ora, que bobagem, nós sempre estávamos felizes, sempre. É aí que fico me questionando: "Quando serei feliz assim novamente?" e não vejo resposta.

Esta segunda parte ficou bem mais leve, quis colocar uma dose de humor na narrativa. Dá pra notar que a personagem continua triste, mas que ainda existem esperanças para ela. A próxima parte vai vir bem rapidinho e é a que eu mais gostei de escrever. Aliás, a história toda mexeu muito comigo e espero que tenha causado um pouco de emoção em vocês também.

Love always, Tary

domingo, 7 de março de 2010

Pedaços do Coração – Parte I: Choque

Lembra do nosso sofá? Ele era tão bonito, cheio das almofadas indianas que Samantha nos trouxera da última viagem. Estava embutido na parede abaixo de uma grande janela onde às vezes nos escorávamos e uníamos os rostos. Ajoelhados no sofá, um copo de vodca nas mãos, contemplando aquela cidade que nos apaixonava. De dia, o sol entrava, invadindo nosso pequeno apartamento; à noite, deixávamos a brisa e a lua sentarem conosco à mesa, saboreando meus típicos desastres culinários. Aquele sofá, uma mesa com duas cadeiras e um velho colchão: nossos únicos móveis.
 
Lembra da tarde em que me trouxe aquele aparelho de som de segunda mão? Que festa! Colocamos Cazuza para tocar o dia todo e, finalmente, desencaixotamos nossos discos antigos, nossos tesouros. Naquele dia nos beijamos por tanto tempo que meus lábios adormeceram. Ainda consigo recordar aquela sensação estranhamente deliciosa.
 
Lembra de quando surtei e tingi meus cabelos de roxo? Nunca vi você rir tanto. E nunca vi me olhar com tanta paixão como quando esparramei meus cabelos de uva por nosso colchão, sem roupas, sem pudor, sem medo.

Lembra daquele carro vermelho? Estava vindo tão rápido, tão rápido, que pensei ter visto um lampejo de sangue no asfalto. Setembro, muito frio, gritos, tudo em câmera lenta.
 
Seus olhos, azuis e apavorados; seus braços fortes me jogando para longe, na direção oposta. Seu peito - o peito em que me debruçara tantas vezes para te ouvir cantar baixinho - recebendo todo o baque, você girando no ar e caindo, frágil como as folhas das canções que escrevia e que voavam pelo apartamento.

Meu braço e minha perna se quebraram quando você salvou minha vida. Meu coração se quebrou quando você perdeu a sua. As partes do meu coração se perderam e eu as procuro. Procuro no nosso lindo sofá, na enorme janela, nas garrafas de vodca quebradas, na cidade agora menos apaixonante, na lua agora menos romântica, na brisa gelada e no sol de domingo. Procuro no antigo aparelho de som, nas canções do Cazuza, no meu estúpido cabelo roxo, no colchão caindo aos pedaços, nos carros vermelhos  assassinos e nas canções que você escrevia. Por mais que eu tente, não consigo encontrar.

Os pedaços do meu coração eram seus e só você poderia me dizer como juntá-los novamente. Mas você não pode, e eu não posso sem você, nunca pude.

Lembra dessas coisas? Lembra?

Dezembro. Bolas coloridas, neve, sua ausência, risos mudos e meus lábios para sempre dormentes de você. 

Esta história é dividida em três partes: Choque, Negação e Aceitação. Pensei nela por acaso e a protagonista me levou até o final. Em breve, posto o resto.

sexta-feira, 5 de março de 2010

Uma música pra se guardar

A primeira vez que ouvi "Pra você guardei o amor", de Nando Reis e Ana Cañas, foi na novela das seis e, desde então, me vi completamente encantada. Ficava esperando o casalzinho fofo aparecer só pra música tocar. Quando meu computador voltou, finalmente baixei e agora; todos os dias, religiosamente, é a primeira a ser reproduzida e com certeza, a mais tocada.

Pra você guardei o amor
Que nunca soube dar
O amor que tive e vi sem me deixar
Sentir sem conseguir provar
Sem entregar
E repartir

É poesia genuína, pura ternura. Tem gostinho de primeiro amor, de beijo apaixonado. É daquelas canções que temos vontade de recitar para alguém algum dia e que se cantassem pra gente, nossa! Morreríamos de emoção.

Impressionante como as vozes de Nando e Ana encaixaram-se com perfeição! Super acho que eles deveriam gravar um álbum inteirinho juntos, com direito a DVD e turnê nacional! Ou pelo menos, manter uma parceria eterna como Roberto e Erasmo Carlos. Virei entusiasta desses dois. Se antes tinha muita simpatia por Nando Reis e Ana Cañas, agora tenho paixão pelo som dos dois. Tudo culpa de "Pra você guardei o amor", quem mandou ser uma das músicas mais lindas dos últimos tempos?

Pra você guardei o amor
Que aprendi vendo meus pais
O amor que tive e recebi
E hoje posso dar livre e feliz
Céu cheiro e ar na cor que arco-íris
Risca ao levitar


Love, Tary